terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Woody Allen entre Truffaut e Almodóvar





Foi assim:Woody Allen se cansou de Manhattan e resolveu dar um tempo. Como não estava acostumado a climas mais amenos ou por assim dizer, tropical, trocou Manhatan por Londres. Ou seja, seis por meia dúzia. E aproveitou o cinzento da ilha britânica para fazer alguns filmes sobre crime e castigo. Como sempre passa por altos e baixo, realizou o excelente Match Point, o mais ou menos Scoop e outro filme acima da média, batizado de O Sonho de Cassandra. Todos eles interpretados por artistas da ilha, senão todo o elenco, pelo menos a maior parte dele.


Mas chega de enrolação. Este post é para falar do mais recente filme de Woody Allen, cineasta que admiro desde Annie Hall. Já que estava mesmo na Europa, Allen resolveu aceitar o convite de produtores espanhóis para fazer um filme no país. Sob o sol da Catalunha, mais precisamente em Barcelona, ele diretor reencontrou a inspiração para encenar um de seus temas prediletos, a permanente tensão dos relacionamentos amorosos, sempre observados com um interesse voyeur, ao qual acrescentou ainda um ácido contraponto entre as culturas anglo-saxã e latina.


O resultado: Vicky, Cristina Barcelona.Sob o sol e o calor da Espanha e na companhia de dois celebrados atores latinos: o recém-oscarizado Javier Bardem e Penélope Cruz, Allen conduz com maestria as reviravoltas nas vidas das amigas Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson, em seu terceiro filme com Allen), americanas que chegam a Barcelona para passar férias. Cada qual com um objetivo. Vicky, às vésperas do casamento com um executivo americano, quer apenas aprofundar seus estudos em cultura catalã, deslumbrando-se diante das obras de Gaudí, como a gótica catedral da Sagrada Família e o colorido Parque Güel. Já Cristina está de sangue doce, disposta tão somente a usufruir a fartura de prazeres locais.


Precisava mais? Claro. E Allen juntou os personagens que são movidos pela razão, culpa e planejamento metódico com aqueles que riscam seus destinos guiados por emoção, paixão e improviso – ainda que sob o risco de derrapar no clichê da passionalidade e sensualidade latinas. Ao longo da narrativa o espectador tem a impressão de que já viu a trama em algum lugar e pondo a cachola para funcionar chega a conclusão: esse filme bem que poderia ter sido feito a quatro mãos por François Truffaut e Pedro Almodóvar. Isso mesmo, Vicky Cristina Barcelona tem a representação sofisticada dos tortuosos caminhos do amor – com uma aflita Vicky indecisa entre agir com a cabeça ou com o coração- e o tom cômico, a alta voltagem erótica e o vigor melodramático da atuação de Penélope Cruz (impagável), que nunca deixou de ser a atriz predileta de Almodóvar.


As cenas de Penélope Cruz, vale ressaltar, oferecem ao espectador o melhor dranalhão latino, daqueles bem à moda mexicana. Imperdíveis.




Filme assistido no Lumiere – Araguaia Shopping

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