Homeland" venceu no domingo (23) os Emmys de Melhor Ator e Melhor Atriz de uma Série Dramática, com Damian Lewis e Claire Danes. A série também foi premiada com Melhor Série de Drama e Melhor Roteiro de Série de Drama. "Mad Men", grande promessa da noite que poderia igualar o recorde de "Frasier", que em 1998 somou cinco estatuetas como Melhor Série de Comédia, ficou sem nenhuma prêmio.
Confira a lista completa dos vencedores do Emmy 2012, marcados em negrito.
Melhor série cômica
Modern Family
Melhor série dramática
Homeland
Melhor minissérie ou filme feito para TV
Game Change
Melhor ator em minissérie ou filme feito para TV
Kevin Costner - Hatfields & McCoys
Melhor atriz em minissérie ou filme feito para TV
Julianne Moore - Game Change
Melhor ator coadjuvante em minissérie ou filme feito para TV
Tom Berenger - Hatfields & McCoys
Melhor atriz coadjuvante em minissérie ou filme feito para TV
Jessica Lange - American Horror Story
Melhor programa de variedade, música ou comédia
The Daily Show with Jon Stewart
Melhor atriz em série dramática
Claire Danes - Homeland
Melhor ator em série dramática
Damian Lewis - Homeland
Melhor direção em série dramática
Tim Van Patten pelo episódio "To the Lost" - Boardwalk Empire
Melhor atriz coadjuvante em série dramática
Maggie Smith - Downton Abbey
Melhor roteiro em série dramática
Alex Gansa, Howard Gordon e Gideon Raff pelo episódio "Pilot" - Homeland
Melhor ator coadjuvante em série dramática
Aaron Paul - Breaking Bad
Melhor apresetador de reality show
Tom Bergeron - Dancing with the Stars
Melhor reality show de competição
The Amazing Race
Melhor atriz em série cômica
Julia Louis-Dreyfus - Veep
Melhor ator em série cômica
Jon Cryer - Two and a Half Men
Melhor direção em série cômica
Steve Levitan pelo episódio "Baby on Board" - Modern Family
Melhor atriz coadjuvante em série cômica
Julie Bowen - Modern Family
Melhor roteiro em série cômica
Louis C.K. pelo episódio "Pregnant" - Louie
Melhor ator coadjuvante em série cômica
Eric Stonestreet - Modern Family
Melhor atriz convidada em série dramática
Martha Plimpton - The Good Wife
Melhor ator convidado em drama
Jeremy Davies - Justified
Melhor atriz convidada em série cômica
Kathy Bates - Two and a Half Men
Melhor ator convidado em série cômica
Jimmy Fallon - Saturday Night Live
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
terça-feira, 11 de setembro de 2012
A vida pode ser leve, apesar de tudo
Baseado em fatos reais “Intocáveis” é, muito bem
costurado, tem atuações de primeira e um notável equilíbrio entre emoção e humor
"Intocáveis" (Intouchables), de Olivier Nakache
e Éric Toledano foi o fenômeno absoluto de bilheteria na França em 2011, um dos
filmes mais vistos na história do cinema francês, levando às salas de exibição
mais de 20 milhões de pessoas. Garantia se sucesso no resto do mundo? Não
necessariamente. Fenômenos comerciais,
como “A Riviera Não É Aqui” (2008) e “Os Visitantes” (1993), passaram quase
batidos em outros países. Os americanos, por exemplo, preferiram assistir ao
horrível remake hollywoodiano de “Os Visitantes” do que ver o original.
Com “Intocáveis”, a história é outra. Talvez por conta do
gênero cinematográfico. Comédias francesas sempre foram melhores do que filmes
de ação. “Intocáveis” é uma comédia? A julgar apenas pela sinopse do filme a
resposta é não. Afinal, no centro da história – baseada em fatos reais – está um
tetraplégico. Vitimado por um acidente com parapente, ele se vê obrigado a
contratar um cuidador, que vem a ser um vigarista de primeira. Digamos então
que o filme está mais para uma tragicomédia do que comédia. A verdade é que “Intocáveis”
apresenta uma versão otimista sobre as limitações e desafios vividos pelos dois
personagens principais e é, ao mesmo tempo, humanista, tocante e muito engraçado.
Tudo bem que a produção tenha uma vocação para o politicamente incorreto, mas tem
o mérito de ser conduzida num tom surpreendentemente justo.
Não conheço ninguém que tenha assistido ao filme e feito
um comentário negativo sobre o mesmo. Elogios não faltam e foi essa propaganda boca-a-boca
que levou a produção a se transformar em campeã de bilheteria. Todos se
encantam com a história de Philippe (François Cluzet, excelente). Ele é o aristocrata
parisiense que fica tetraplégico depois de um acidente. Sua condição exige que
ele tenha um cuidador quase em tempo integral, mas, por conta de seu
temperamento explosivo, os contratados duram muito pouco tempo na posição. Até
que entra em cena Driss (Omar Sy, vencedor do César de melhor ator por seu
desempenho), um jovem de origem senegalesa que vive na periferia da capital
francesa. Driss, na realidade quer apenas um atestado para solicitar auxílio
desemprego do governo. O jovem é recém-saído da prisão, e tem uma conduta no
mínimo suspeita. Mesmo assim, Philippe o contrata e os dois passam a
desenvolver um vínculo forte, marcado pela soma de valores e descobertas
valiosas mediante conflitos de dois mundos distintos.
Logo na primeira cena os espectadores são levados à adrenalina
com a dupla. Driss está dirigindo um automóvel de luxo velozmente e no banco ao
lado está Philippe. Os amigos são perseguidos pela polícia e nesta cena
percebe-se a profundidade da amizade entre os dois. A cena apenas é um quadro
introdutório que será explicado à medida do desenrolar da história.
A falta de experiência de Driss no trato de pessoas com
deficiência é compensada pela alegria de viver, a espontaneidade e a rebeldia
do cuidador. Assim ele faz com que seu patrão saia da posição de vítima e
repense sua vida. O encontro também acaba mexendo com os valores de Driss, que
passa a prestar mais atenção a sua família e a assumir responsabilidades antes
desimportantes para ele.
O que mais chama a atenção no filme é a ênfase dada a
superação das fraquezas de cada um através da amizade. No gênero de drama, o
filme poderia enfatizar o sofrimento de um homem condenado à cadeira de rodas e
de um pobre sem teto. Ao invés disso, Philippe proporciona um lar, trabalho,
família e condições para uma vida mais digna a Driss, enquanto este auxilia com
bom humor no resgate de sonhos e da autoconfiança que o Philippe perdeu após
seu acidente.
As cenas cheias de humor e diversão servem para abordar o
lado humano dos dois protagonistas. Philippe escreva cartas de amor platônicas
para uma correspondente e é encorajado por Driss a ligar e tornar seu amor
real. Driss leva o milionário para passear ao redor da orla da cidade de
madrugada, um gesto altruísta para com alguém que tem seus movimentos e dias
limitados a quatro paredes de sua mansão. Esses e outros fatos emocionam e dão
uma lição de como pequenas atitudes e trocas sinceras de experiências podem
fortalecer e desenvolver grandes amizades.
O filme tem ainda o mérito de funcionar como uma
excelentre crônica parisiense. Um retrato da França contemporânea,
multicultural e em processo de transformação por conta da forte presença de
imigrantes no país. Tudo bem que os personagens do filme não saiam da esfera da
caricatura, que a empatia entre os dois extremos que o filme desperta não
resista a um choque de realidade. E que ele desfile as melhores caricaturas de
anedotas e personagens que a gente vê e escuta todos os dias. Quando a piada é
boa, é possível rir toda vez que é contada. O fato, na verdade não diminui a
força do filme que está mais para a diversão do que para análises sociológicas.
E como diversão, funciona bem à beça.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Produtora executiva de "Dexter", Sara Colleton disse em entrevista ao site TV Guide, que a oitava temporada da série deve ser a última. A sétima temporada da trama protagonizada por Michael C. Hall começa no dia 30 de setembro nos Estados Unidos.
"Queríamos que a série terminasse neste ano, mas o Showtime nos convenceu de que seria melhor fazermos isso em dois anos. De uma certa forma, este é um final em duas temporadas. Estamos trabalhando nisso, e já sabemos como vai terminar. O próximo ano, definitivamente, será o último de 'Dexter'", disse Colleton.
"Queríamos que a série terminasse neste ano, mas o Showtime nos convenceu de que seria melhor fazermos isso em dois anos. De uma certa forma, este é um final em duas temporadas. Estamos trabalhando nisso, e já sabemos como vai terminar. O próximo ano, definitivamente, será o último de 'Dexter'", disse Colleton.
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
Bob Dylan em primeira audição
Tempest, que tem lançamento
marcado para o dia 11 é o 35º disco de Bob Dylan e a obra com a qual ele celebra
50 anos de música
Sempre
acreditei que Bob Dylan deveria ser indicado para receber o Prêmio Nobel de
Literatura. E sempre fui alvo de curtição de amigos, que alegavam que eu era
(sou) mais do que fã de Dylan, uma verdadeira groupie (fanática). Em 2008,
quando Dylan recebeu o Prêmio Pulitzer especial por "seu profundo impacto
na música popular e na cultura americana através de canções de extraordinário
poder lírico e poético", me senti vingada das brincadeiras dos amigos.
Lavei a alma. Para completar, esse ano, a importância cultural da obra de Bob
Dylan foi reconhecida pelo governo americano. Ele recebeu a "Medalha da
Liberdade", maior honraria do país concedida a um civil.
Na
semana passada, último dia de agosto, integrei a lista da legião de fãs que
entraram no site www.listentobobdylan.com
e encontraram um mapa com lugares estratégicos nos EUA e em outros nove países
(Austrália, Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Holanda, Suécia, Reino Unido e
Brasil) para ouvir uma seleção de canções de "Tempest", o 35º álbum
de estúdio de Bob Dylan que tem lançamento oficial marcado para 11 de setembro
nos Estados Unidos. A seleção podia ser
ouvida em streaming por meio de dispositivos móveis. Não resisti e comprei o
disco antecipadamente no iTunes.
O
disco serve para reforçar minha admiração por esse senhor de 71 anos que não dá
nenhum sinal de pensar em aposentadoria. A lenda do folk americano não somente
lança o disco de inéditas, o primeiro desde "Together Through Life",
de 2009, como anunciou 32 shows em grandes arenas, entre outubro e novembro,
com a participação especial do ex-Dire Straits Mark Knopfler. Vale lembrar que
Dylan e Knopfler já trabalharam juntos em dois discos de Dylan, “Slow train
coming”, de 1979, e “Infidels”, de 1983.
Voltando
a “Tempest”. O disco foi produzido por Jack Frost, um dos muitos pseudônimos
usados por Robert Allen Zimmerman. Dylan usa o nome como produtor de seus
próprios álbuns desde "Love and theft", de 2001. Coincidentemente
também lançado no dia 11 de setembro. E Antes mesmo de ouvir as músicas em
streaming no site listentobobdylan.com, já conhecia algumas canções do
disco. No começo de agosto a Columbia
Records tinha liberado “Early Roman Kings”, para trilha sonora do comercial da
segunda temporada da série americana “Strike back” da HBO (no Brasil, a série
faz parte da programação do canal Maxprime, do grupo HBO). A música tem o tom
irônico de algumas canções de Dylan e uma abordagem pra lá de bluseira.
A
nova temporada do seriado estreou no dia 17 de agosto nos Estados Unidos, e
nesta mesma noite o canal a cabo trouxe ao mundo um trecho de “Scarlet Town”, segunda canção
revelada de “Tempest”. “Scarlet Town” lembra vagamente o
clima sombrio de “Nettie Moore”, de Modern Times e canções de Leonard Cohen.
É
interessante lembrar que a parceria de Dylan com séries e filmes é cada vez
mais recorrente. Em 2005, Dylan gravou “Tell’ O’ Bill” para o filme “Terra
Fria”, de Charlize Theron. Dois anos depois, lançou “Lucky You” para a trilha
sonora de “Bem Vindo ao Jogo”, estrelado por Drew Barrymore. Em 2003, a música
“Cross the Green Mountain” apareceu na trilha sonora do filme de guerra “Deuses
e Generais”.
Outra
amostra grátis de “Tempest” foi
apresentada em forma de videoclipe e chama-se "Duquesne Whistle", A
canção é um Folk-blues nostálgico que ganhou uma versão cinematográfica
violenta, no melhor estilo “Cães de Aluguel”, de Quentin Tarantino. No clip um
rapaz com ares de stalker, tenta flertar com uma moça que ele sempre espera
sair do escritório. E paga o preço desta ousadia - além do desprezo da garota.
Duquesne
Whistle", ou "o apito do Duquesne", remete ao nome de um trem de
passageiros da Pensilvânia (a canção tem de fato um balanço ferroviário), e a
referência à localidade Carbondale (Illinois) molda uma trajetória pela memória
do Meio Oeste americano. A canção foi escrita em parceria com Robert Hunter, um
conhecido letrista de "bluegrass" e ex-integrante da banda Grateful
Dead. Hunter também participou do álbum “Down in the Groove” (1988) e “Together
Through Life” (2009). E o videoclipe
foi dirigido por Nash Edgerton (que dirigiu antes "Beyond Here Lies
Nothin?", também de Dylan). A guitarra que faz contraponto à voz cada vez
mais enfumaçada de Dylan é a de Mark Knopfler.
No
site criado pela Columbia Records foi possível ouvir as 10 músicas do disco que
totalizam pouco mais de 70 minutos de canções. O álbum parece temático e fala
basicamente de amor e morte. Além da comentada "Duquesne Whistle", a
faixa-título é uma representação de quase 14 minutos do desastre do Titanic,
com direito a citar Leonardo Di Capprio, que protagonizou a versão de James
Cameron para o desastre naval. Esta não é a primeira vez que o cantor faz
referência a uma estrela em suas letras. Em "I shall be free", ele
cita nomes como Brigitte Bardot, Anita Ekberg e Sophia Loren. E em
"Motorpsycho Nightmare", Dylan fala de Tony Perkins e do filme
"La Dolce Vita".
Em “Roll On John”, ela fala
sobre o assassinato de John Lennon. Dylan relata o que imagina ter sido os
momentos finais de Lennon, inclusive sua experiência física de morrer, “até o
último suspiro”. Triste e comovente, principalmente para quem considera Lennon
e Dylan ícones do rock and roll. Na música ainda há memória de Dylan de dois
jovens amigos muito chapados em uma limusine.
“Long and Wasted Years” também chama a atenção por mostrar um
Dylan falando de anos destilando uma balada linda em que o protagonista
pede desculpas a seu amor para ferir seus sentimentos. Ele admite que usa
máscaras para esconder seus olhos, porque "Há segredos em que eles não
podem disfarçar". A música é o oposto de Pay In Blood, que Dylan encarna
o demônio, aparece arrogante e ameaçador, prometendo pagar com sangue, mas não
o dele.
É preciso escutar mais, fazer novas e longas leituras, mas a princípio
pode se dizer que “Tempest” éimpressionante, mesmo falando de temas que estao
eternamente na obra do cantador: perda, catástrofe, assassinato. Aos 71 anos,
ele mantém a esperança nas graças salvadoras de coragem, amor e amizade são
notavelmente familiar neste século. No comando da linguagem, o bardo americano
continua inegualável. E se “Tempest” for mesmo o último registro musical de
Dylan (afinal ele tem a voz de um senhor de 71 anos), deixa como legado sua
empatia ímpar, sua capacidade de habitar seus personagens, entender suas
motivações e fazê-los de carne e osso através da música.
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Nos bastiores do poder
Luzes, câmera e ação! A indústria do cinema retrata há anos a vida de grandes chefes de estado em suas diferentes obras, tentando ao máximo desvendar os bastidores que cercam o mundo dos poderosos. Em ano eleitoral, nada mais oportuno do que conhecer a trajetória ´política de grandes ( às vezes nem tanto) líderes políticos de todo o mundo. Há cinebiografias imperdíveis, como o recente A Dama de Ferro, sobre a primeira ministra inglesa Margareth Thatcher ou ainda Ganhi, sobre o líder indiano.
A dama de ferro – A vida da primeira ministra inglesa Margareth Thatcher– Filme que
deu o Oscar de melhor atriz à Meryl Streep. (realizado no ano passado)
Gandhi – Personagem principal: Mahatma Gandhi.
Danton – O Processo da Revolução, de Andrzej Wajda . Em1791, segundo ano da Revolução Francesa, o
líder popular Danton prega o fim do regime de terror que ajudara a instituir.
O Discurso do Rei == Personagem principal:
rei George VI, da Inglaterra. Ele sofria de gagueira desde os quatro
anos de idade. O problema era considerado sério para um integrante da realeza britânica,
que frequentemente precisa fazer discursos.
W. Personagem
Principal: George W. Bush. Em W. O diretor Oliver Stone traz a vida do 43º
Presidente dos Estados Unidos para as telas de cinema. O filme reproduz aos
espectadores a trajetória de George W. Bush.
Frost/Nixon (2008) ==Personagem Principal:- Richard Nixon. O filme retrata a história
do ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon (interpretado por Frank
Langella), que permaneceu em silêncio por três anos após renunciar à
presidência dos Estados Unidos.Em 1977, Nixon concordou em dar uma entrevista e
decidiu responder a perguntas sobre o período em que esteve na Casa Branca, não
apenas com o objetivo de esclarecer pontos obscuros sobre o escândalo de
Watergate que o levou à renúncia, mas também com o intuito de usá-la para uma
possível volta à política.
O Último Rei da Escócia (2006) ==Personagem Principal: Idi Amin. O filme retrata a história do ex-ditador de Uganda, Idi Amin (interpretado por Forest Whitaker), sob a perspectiva e os olhos de Nicholas Garrigan (interpretado por James McAvoy), um jovem escocês que foi médico pessoal do instável líder.
Stalin, de Ivan Passer. A trajetória do ditador russo Joseph Stalin,
desde a abdicação do czar, em 1917, até sua morte, em 1953.
Nixon, de Oliver Stone (USA: Buena
Vista, 1995), com Anthony.Hopkins, Joan Allen, Powers Boothe, Ed Harris, Bob
Hoskins e James Woods. O Filme conta a história do
controvertido presidente americano Richard M. Nixon, Da sua vitoriosa campanha
eleitoral até o chocante escândalo de Watergate, que selou toda sua maldição.
Ética e política – Entre os filmes que retratam situações em que as relações entre ética e política frequentemente
se colocam em tensão, o que leva os atores políticos a dilemas morais, vale a
pena ver.
Jogos do Poder retrata exatamente como os EUA entram numa
guerra, gastam bilhões nela, só que quando se mais precisa de dinheiro, eles
simplesmente abandonam o país. Há até uma declaração do próprio congressista
sobre o assunto ao final do filme. (Com Julia Roberts e Tom Hanks)
Tudo
pelo Poder – O democrata George Clooney usa a política para
falar de moralidade, a linha tênue entre fazer o certo ou o melhor para si
mesmo
Segredos do Poder de Mike Nichols John Travolta interpreta um governador bonachão e mulherengo
que está envolvido nas primárias do Partido Democrata para as eleições
presidenciais. Jovem idealista se junta ao comitê para elegê-lo.
Game Change -- A atriz americana Julianne Moore vive com um
impressionante mimetismo a republicana ultraconservadora Sarah Palin no filme para a televisão "Game Change",
programado para sábado no canal americano HBO, que mostra como foi a sua
campanha à vice-presidência dos Estados Unidos em 2008. ( Está passando esse mês
no canal pago HBO)
Todos os Homens do Presidente. Em 1972, sem ter a menor noção da gravidade dos fatos, um repórter (Robert Redford) do Washington Post inicia uma investigação sobre a invasão de cinco homens na sede do Partido Democrata, que dá origem ao escândalo Watergate e que teve como consequência a queda do presidente Richard Nixon.
Mera Coincidência --Presidente dos Estados Unidos ), a poucos dias antes da eleição, se vê envolvido em um escândalo sexual e, diante deste quadro, não vê muita chance de ser reeleito. Assim, um dos seus assessores entra em contato com um produtor de Hollywood (Dustin Hoffman) para que este "invente" uma guerra na Albânia, na qual o presidente poderia ajudar a terminar, além de desviar a atenção pública para outro fato bem mais apropriado para interesses eleitoreiros.
Nacionais
Entreatos_ Documentário que enfoca
os dias finais da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva rumo à Presidência, em
2002. Traz imagens da campanha presidencial, das reuniões de cúpulas, com José
Dirceu, José Genuino e Antonio Palocci, além das primeiras imagens de Lula ao
saber da vitória.
Os Anos JK - Uma Trajetória Política O filme de Silvio Tendler, aborda a história recente do Brasil: a eleição de JK, o nascimento de Brasília, o polêmico sucessor – Jânio Quadros.
Janio a 24 quadros – Balanço político bem-humorado dos anos 50 aos 80, tendo como
grande personagem o ex-presidente Jânio Quadros.
Estilo documentário
-JFK – A pergunta que não quer calar. Três quartos dos americanos - homens e mulheres - continuam duvidando que só um homem tenha sido o responsável pela morte do presidente. "JFK" examina as várias teorias sobre o crime que abalou a estrutura norte-americana.
Comandante (2003)==Personagem Principal:Fidel Castro.Comandante é um documentário
político que mostra a entrevista do diretor Oliver Stone com o lider cubano
revolucionário Fidel Castro sobre diferentes assuntos.
domingo, 5 de agosto de 2012
O pop anárquico e refinado de Rufus Wainright
Contrariando o que o nome sugere, “Out of the game” mostra que seu
criador não está fora do jogo de fazer boas músicas.
No
ano passado, quando começaram a surgir as primeiras notícias sobre “Out of The
Game”, sétimo
álbum de material inédito de Rufus Wainright, o disco do compositor nascido em
Nova Iorque e criado no Canadá era anunciado como o álbum mais pop de carreira do artista. A
idéia inicial era espelhar o álbum nos trabalhos de Elton John, de quem
Wainright nunca escondeu sua admiração. Para tanto Wainwright convocou um time
brilhante: Martha Wainwright, irmã de Rufus, que também segue carreira como
artista, o guitarrista do “Yeah Yeah Yeahs”, Nick Zinner, Sean Lennon (sim, o
filho de John Lennon), Nels Cline, que é guitarrista do “Wilco” e o vocalista
Andrew Wyatt da banda sueca “Miike Snow”. As expectativas gerais para “Out of
the game”, que foi lançado oficialmente em primeiro de maio passado eram mudanças
e revoluções.
Não é isso que nos é entregue em “Out
of the game”. O cantor e compositor realmente deu uma levada pop ao disco, mas
a melancolia, marca registrada de todas suas produções anteriores, desde a
estréia em 1998, continua em destaque. É verdade que o disco espelha-se no
Elton John dos anos 70 e que o disco é o mais leve do artista, desde sua
estréia em 1998, graças à parceria com Mark Ronson, produtor de discos de Amy
Winehouse, Robbie Williams, Lily Allen e Duran Duran, mas família e relações humanas ainda dão
o tom das canções de Rufus.
Rufus Wainright se alimenta das melhores influências que a música pop
pode oferecer, mas não esquece a essência melancólica do folk
Membro
de uma excelente família de músicos e conhecido não apenas por sua ótima
produção criativa, como também por suas famosas reinvenções de faixas como Hallelujah,
de Leonard Cohen, e Across the Universe, dos Beatles,
Rufus Wainwright ganhou destaque nos anos 2000 sem ter que se encaixar em possíveis
nichos. Ele já passou pelo som operístico, sem, contudo ser erudito, pelo
melhor do estilo gay, passando longe de ser dançante e até mesmo ousando fazer
um disco somente com músicas de Judy Garland. Agora adere ao pop, mesclando-o
com tons de soul, gospel e até mesmo pelo R& B e faustosos musicais da Broadway.
“Montauk”,
uma balada triste, levada pelo som do piano, coloca Rufus versando sobre
família e relações humanas. Ele fala especialmente da filha Viva Katherine Wainwright,
fruto de seu relacionamento com uma amiga de longa data, Lorca Cohen ( filha de
Leonard Cohen). Com ela e o parceiro de longa data, Jorn Weisbrodt, Rufus cria a filha Cohen na cidade canadense que dá nome à canção
.
Em “Candle”, ele reafirma que ainda
não superou a morte da mãe, ocorrida em 2010.
A balada docemente fúnebre incursiona pelo folk-country, ressalta a
tristeza que não sai da voz, letra e olhos do artista. Com sua letra
metafórica, ele canta: “But the churches have run out of candles”. Última frase da canção, acompanhada
por uma gaita de fole que dá à canção uma discreta e faz-toda-a-diferença
pegada escocesa.
Rufus ainda consegue abrir o coração na balada
levemente jazzística "A song for you". Aqui ele conta como lidar com
as reclamações de seu companheiro, Jorn Weisbrodt, de que nunca havia feito uma
canção para ele. "Há muitas letras para escolher/ Mas há uma só para
você", devolve ele, numa interpretação ainda mais expressiva por causa do
coral gospel que o acompanha ao longo do disco.
O soul "Perfect man", foi
composta por Rufus com intenção de fazer um dueto com Neil Tennant, dos Pet
Shop Boys, que rejeitou o convite por achar que a música tinha muitos acordes. O
disco destaca ainda “Jericho”, que passaria fácil como uma composição
de Sir Elton John nos tempos áureos, mas com uma levada gospel,
"Barbara" e "Rashida". Todas as canções conjugam
inteligentes harmonias, exuberância operística e bom senso pop em embalagem atemporalmente
radiofônica. O coral de apoio de “Barbara” merece referência especial.
“Bitter Tears”
é a canção mais pop, mais anos 80, mais
“alegre” de todo o alinhamento, e provavelmente de toda a sua discografia. É
impossível não viajar ao som dos sintetizadores. A música entra por caminhos
mais dançantes, diametralmente opostos aos de “Respectable Dive”, balada em
jeito de valsa apoiada na secção vocal. “Sometimes You Need” é calma e um dos
mais simples e belos momentos do disco, é só fechar os olhos, deixarmo-nos
absorver pelas palavras de Rufus e apreciar sem pressas.
quarta-feira, 20 de junho de 2012
Ridley Scott promete, mas não cumpre
Visualmente espetacular e sem enredo forte, “Prometheus” banaliza os efeitos especiais
Irregular, mas corajoso. Assim pode ser definido “Prometheus”, um dos lançamentos mais aguardados do ano pelos fãs de ficção científica, principalmente pelos fãs do diretor britânico que tiveram a chance de ver na tela grande de “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979) e desde “Blade Runner, o Caçador de Andróides” (1982). A produção não só marca o retorno do Ridley Scott à ficção científica como também o seu reencontro com sua obra-prima “Alien – O Oitavo Passageiro”. E foi anunciado como a obra que tenta explicar a origem da criatura que cresce e se multiplica na produção dirigida por Scott e nas sequências seguintes, cada uma delas assinada por cineasta distinto: James Cameron (“Aliens – O Resgate”), David Fincher (“Alien 3”) e Jean-Pierre Jeunet (“Alien: A Ressurreição”). Assim, quem assistiu aos filmes citados simplesmente não podem deixar de ver Prometheus. Mesmo que ao final da sessão sai do cinema pensando: “É Prometheus, você prometia, mas não cumpriu não”
Até mesmo Scott viu que tinha ido longe demais e no meio da produção do filme, mudou de idéia. O ponto de partida para o novo projeto do filme era revelar quem era uma figura brevemente mostrada em “Alien: O Oitavo Passageiro” o extraterrestre fossilizado (conhecido pelos fãs como Space Jockey) morto pela força misteriosa que posteriormente massacra a tripulação da nave Nostromo. Como “Alien” teve três sequências, o diretor achou mais interessante apresentar o prelúdio da saga. Assim, junto com possíveis respostas, Prometheus lança ainda mais perguntas, que prospectam sobre a origem do homem à luz do debate entre ciência e fé.
Por conta disso,ele acabou realizando um filme que além de irregular e corajoso, o filme também é pretensioso e ambicioso. Em “Prometheus”, Ridley Scott não se limitou ao horror espacial de “Alien”, mas resolveu conjugar o clima angustiante do filme da década de 70 com reflexões filosóficas herdadas de clássicos como “Solaris” (1972) e de “2001 — Uma Odisseia no Espaço” (1968). O resultado, como era de esperar, raramente fica à altura da pretensão de Scott em misturar, ciência, religião e filosofia.
Vale ressaltar, porém, que “Prometheus” não compre o que prometia em termos. De uma forma técnica o filme é impecável. Seus efeitos de som são poderosos, fortes, principalmente nas cenas que retratam a nave que dá título à produção. A trilha sonora está em sintonia fina com a tensão e grandiosidade que pretende provocar. Difícil não se impressionar com as belas sequências, como o prólogo que mostra a criação da vida na Terra ou os minutos em que acompanhamos o dia-a-dia do andróide David. E os cenários e planos aberto mostram com perfeição a pequenez humana diante do universo e da própria natureza humana. A direção de arte cria área que evoca grandeza, como o interior branco e tecnológico da nave, que se choca ao se comprado com o interior estéril e seco da pirâmide alienígena. Nestes quesitos, o filme é impecável.
“Prometheus” se passa no mesmo universo de “Alien, O Oitavo Passageiro”, mas a ação se desenrola três décadas antes, e em um planeta diferente onde existe uma nova geração de alienígenas, capazes de assumir até quatro formas – todas concebidas pelo designer H. R. Giger, responsável pela criatura original. O título Prometheus se refere a uma nave espacial que se desloca em direção a um planeta distante, seguindo uma rota que tem como referência mapas pré-históricos recém-descobertos na Terra. Nessas cartas, há a indicação de um local onde a raça humana teria sido concebida, o que, se comprovado, poderá lançar por terra toda a Teoria Evolucionista de Charles Darwin e pelo menos problematizar a do Criacionismo, defendida por setores mais conservadores do Cristianismo, por exemplo.
Quem lidera a missão de cientistas é a destemida Elizabeth (Noomi Rapace, a Lisbeth Salander da versão sueca de “O Homem Que Não Amava as Mulheres”). Suas razões transcendem a ciência: ela ansia ver de perto o Criador. Acredita que, nesse planeta, travará contato com seres superiores, que ela chama de engenheiros, responsáveis pela criação da Terra e nossos ancestrais mais remotos. Também estariam na origem dos monstros extraterrestres que cresceram e se multiplicaram na série Alien.
“Não dá para assistir “Prometheus” sem lembrar os filmes da cinessérie, principalmente ”Alien, O Oitavo Passageiro” e “Aliens, o Resgate”. Noomi Rapace é a dublê de Ellen Ripley que vira uma guerreira ao longo da projeção e não dá para imaginar quais são as verdadeiras intenções do andróide David, da mesma forma que o Ash de Ian Holm escondia as suas em “O Oitavo Passageiro”. Alguém se lembra do burocrata que não pensa duas vezes antes de disparar contra um companheiro a fim de garantir a própria segurança… E que tal um afro-americano altruísta que em determinado momento do filme resolve se sacrificar para salvar os amigos?
Uma pena que Ridley Scott tenha perdido o jeito de contar história. E contou a de “Prometheus” de qualquer jeito, sem nenhum cuidado em explicar os fatos com clareza… Os engenheiros nos criaram, bacana… Mas e o composto orgânico? Que evoluiu rapidamente para uma espécie de réptil, que transformou um cidadão numa espécie de zumbi alienígena e se desenvolveu numa humana numa espécie de cefalópode… Deixa pra lá. Não dá mesmo para falar de Prometheus e de suas pretensas falhas sem revelar detalhes (spoilers) do filme. Assim resta dizer que a produção contém furos e lacunas gritantes e novamente, que o visual do filme é muito bom e a parte da ação, toda centrada na Naomi Rompace, tem um bom suspense. O conjunto do filme, no entanto, decepciona. E muito.
Prometheus (EUA, 2012)
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba e Guy Pearce
Duração: 124 min.
segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
A dama de ouro do cinema
Filme: O Artista
Direção: Michel Hazanavicius (O Artista)
Ator Jean Dujardin (O Artista)
Atriz: Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Ator coadjuvante: Christopher Plummer (Toda Forma de Amor)
Atriz coadjuvante: Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)
Roteiro adaptado: Os Descendentes
Roteiro original: Meia-Noite em Paris
Filme em língua estrangeira: A Separação (Irã)
Animação: Rango
Maquiagem :A Dama de Ferro
Edição: Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Trilha sonora O Artista
Direção de arte: A Invenção de Hugo Cabret
Fotografia A Invenção de Hugo Cabret
Figurino : O Artista
Canção original: Os Muppets
Edição de som: A Invenção de Hugo Cabret
Som: A Invenção de Hugo Cabret
Efeitos visuais: A Invenção de Hugo Cabret
Curta-metragem de animação: The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
Curta-metragem: The Shore
Documentário: Undefeated
Documentário em curta-metragem: Saving Face
domingo, 5 de fevereiro de 2012
O lado sombrio do ser humano
A mostra “O Amor, a Morte e As Paixões” que prossegue até quinta-feira, 9, nas salas do Cine Lumière não tem somente dois filmes franceses em sua programação. Mas duas produções despertaram minha curiosidade. Afinal não dá para ver todos os filmes em cartaz. A escolha do que ver veio do currículo dos cineastas. A falta de pudor de Bertrand Bonello em “O Pornógrafo” me levou a ver “L’Apollonide — Os Amores da Casa de Tolerância”, assim como a delicadeza de “Lírios D’Água”, em que Céline Sciamma explora o tema da sexualidade em adolescentes, me fez decidir por “Tomboy”. Difícil e imperfeito. Essa poderia ser a definição do filme de Bertrand Bonello. O filme de Céline Sciamma, por sua vez, é discreto, mas cheio de atitude e delicadeza.
Vamos por parte. “L’Apollonide — Os Amores da Casa de Tolerância” narra o dia a dia do decadente bordel L’Apollonide, frequentado por burgueses parisienses no início do século 20. Mas os burgueses estão longe de ser o foco da trama. A Bonello interessa pintar o retrato da árdua batalha cotidiana das prostitutas que vivem naquele casarão. O espectador vê as acompanhantes fazendo seus programas, discutindo entre si as relações com a clientela e procurando distração em ambiente movido a álcool e perversões. E haja perversões.
Afirmar que a Bonello interessa pintar o retrato da árdua batalha das prostitutas se justifica. O que mais chama a atenção do espectador (a partir do cartaz do filme) é a beleza plástica tanto da reconstituição de época quanto dos enquadramentos com os quais o realizador nos apresenta as suas mulheres. Parecem pinturas delicadas em seus tons sóbrios, detalhistas no exame de suas vaidades e inquietações. O olhar de cada garota tem uma tristeza comovente, acentuada por um conformismo daqueles que traz incômodo ao espectador. A fotografia do filme é linda, com um colorido que retrata perfeitamente as particularidades de cada personagem. Os quartos são repletos de tecidos e móveis de época. A reconstrução da casa de tolerância é impecável.
Se existe falha ela fica por conta da forma com que Bonello foca o mundo da prostituição. Parece chover no molhado colocar em cena uma cafetina que abriga as profissionais em troca delas trabalharem e pagarem suas dívidas, que acabam se acumulando devido à necessidade da compra de perfumes, cremes, sabonetes e ópio. As histórias das meninas também não apresentam novidade. Há aquela que sai do interior para tentar a vida na casa de tolerância, a de uma mulher apaixonada por seu cliente, e de uma mulher que carrega uma cicatriz no rosto feita por um cliente. As mulheres parecem bonecas, sempre arrumadas e maquiadas, usadas como brinquedos pelos homens, muitas vezes de forma perversa. Uma das vítimas da perversão masculina é Madeleine (Alice Barnole). Após ser amarrada na cama por um cliente, tem seus lábios cortados por uma navalha e fica com um sorriso que lembra o coringa de Jack Nicholson no filme da franquia “Batman”. Ninguém tem vida própria fora da casa. As garotas não têm permissão para sair e a câmera sempre fica com as garotas, do lado de dentro. Para as mulheres, a casa é uma prisão — um diálogo expõe a saída do casarão como um grande evento. Para os clientes, é o passe livre, a autorização para fazer o que quiser. O espectador nada fica sabendo sobre os homens quando eles deixam a mansão. Bertrand Bonello não julga suas prostitutas nem seus clientes. Não é paternalista nem autor de conto de fadas. Apenas um cronista do mundo das cortesãs.
Há que se destacar ainda a trilha sonora que aparece como um dos componentes mais importantes, senão o mais, para dar aura de modernidade ao filme. Usando uma combinação de estilos, Bonello coloca Mozart e Debussy ao lado de Lee Moses e o blues “She’s a Bad Girl”. A primeira vista parece estranho, mas funciona perfeitamente. Impossível não pensar em uma conexão emocional entre a música soul e a vida das garotas. E a música de Mozart na cena do Salon Bourgeois dá uma ideia de carga profunda, mas sem cair para uma atmosfera de romantismo. E a sequência final, que faz uma ponte com o exercício da profissão no presente, garante atualidade ao longa à medida que a regulamentação da prostituição é uma das questões da hora na França.
Uma curiosidade: existe luz elétrica no salão de L'Apollonide, mas nos quartos a iluminação é de velas. É, em parte, um recurso estético que define o visual do filme.
Um pequeno grande filme
"Tomboy”", a sexualidade na medida da delicadeza de Céline Sciamma
Vamos por parte. “L’Apollonide — Os Amores da Casa de Tolerância” narra o dia a dia do decadente bordel L’Apollonide, frequentado por burgueses parisienses no início do século 20. Mas os burgueses estão longe de ser o foco da trama. A Bonello interessa pintar o retrato da árdua batalha cotidiana das prostitutas que vivem naquele casarão. O espectador vê as acompanhantes fazendo seus programas, discutindo entre si as relações com a clientela e procurando distração em ambiente movido a álcool e perversões. E haja perversões.
Afirmar que a Bonello interessa pintar o retrato da árdua batalha das prostitutas se justifica. O que mais chama a atenção do espectador (a partir do cartaz do filme) é a beleza plástica tanto da reconstituição de época quanto dos enquadramentos com os quais o realizador nos apresenta as suas mulheres. Parecem pinturas delicadas em seus tons sóbrios, detalhistas no exame de suas vaidades e inquietações. O olhar de cada garota tem uma tristeza comovente, acentuada por um conformismo daqueles que traz incômodo ao espectador. A fotografia do filme é linda, com um colorido que retrata perfeitamente as particularidades de cada personagem. Os quartos são repletos de tecidos e móveis de época. A reconstrução da casa de tolerância é impecável.
Se existe falha ela fica por conta da forma com que Bonello foca o mundo da prostituição. Parece chover no molhado colocar em cena uma cafetina que abriga as profissionais em troca delas trabalharem e pagarem suas dívidas, que acabam se acumulando devido à necessidade da compra de perfumes, cremes, sabonetes e ópio. As histórias das meninas também não apresentam novidade. Há aquela que sai do interior para tentar a vida na casa de tolerância, a de uma mulher apaixonada por seu cliente, e de uma mulher que carrega uma cicatriz no rosto feita por um cliente. As mulheres parecem bonecas, sempre arrumadas e maquiadas, usadas como brinquedos pelos homens, muitas vezes de forma perversa. Uma das vítimas da perversão masculina é Madeleine (Alice Barnole). Após ser amarrada na cama por um cliente, tem seus lábios cortados por uma navalha e fica com um sorriso que lembra o coringa de Jack Nicholson no filme da franquia “Batman”. Ninguém tem vida própria fora da casa. As garotas não têm permissão para sair e a câmera sempre fica com as garotas, do lado de dentro. Para as mulheres, a casa é uma prisão — um diálogo expõe a saída do casarão como um grande evento. Para os clientes, é o passe livre, a autorização para fazer o que quiser. O espectador nada fica sabendo sobre os homens quando eles deixam a mansão. Bertrand Bonello não julga suas prostitutas nem seus clientes. Não é paternalista nem autor de conto de fadas. Apenas um cronista do mundo das cortesãs.
Há que se destacar ainda a trilha sonora que aparece como um dos componentes mais importantes, senão o mais, para dar aura de modernidade ao filme. Usando uma combinação de estilos, Bonello coloca Mozart e Debussy ao lado de Lee Moses e o blues “She’s a Bad Girl”. A primeira vista parece estranho, mas funciona perfeitamente. Impossível não pensar em uma conexão emocional entre a música soul e a vida das garotas. E a música de Mozart na cena do Salon Bourgeois dá uma ideia de carga profunda, mas sem cair para uma atmosfera de romantismo. E a sequência final, que faz uma ponte com o exercício da profissão no presente, garante atualidade ao longa à medida que a regulamentação da prostituição é uma das questões da hora na França.
Uma curiosidade: existe luz elétrica no salão de L'Apollonide, mas nos quartos a iluminação é de velas. É, em parte, um recurso estético que define o visual do filme.
Um pequeno grande filme
"Tomboy”", a sexualidade na medida da delicadeza de Céline Sciamma
No ano passado a diretora e roteirista francesa Céline Sciamma saiu do Festival de Berlim com o prêmio Teddy, destinado às produções de temática homossexual pelo filme “Tomboy”. O fato poderia ter confinado o filme ao gueto das produções GLS, que ainda sofrem preconceito. Felizmente não é o que vem ocorrendo. Em todo o mundo, e não apenas na Alemanha ou na França, “Tomboy” vem seduzindo público e críticos.
A própria Céline afirma que, embora o tema da identidade sexual lhe seja caro, ela nunca viu o prêmio da Berlinale como uma coisa restritiva, e nem poderia. “Pedro Almodóvar recebeu este prêmio no começo da carreira. Se eu tiver 10% do respeito que ele usufrui hoje em dia, junto ao público e aos críticos, já estarei feliz.”
Com abordagem original e atuação sensacional da pequena protagonista Zoé Héran, Céline Sciamma supera os clichês usados em seu filme “Lírios d’Água”, de 2007, para contar a história de Laura, uma menina moleque (tradução literal do título do filme) de 10 anos que se muda com os pais (Mathieu Demy e Sophie Cattani) e a irmã caçula (Malonn Lévana, adorável) para um subúrbio de Paris. É verão, Laura só veste bermudão e regata. De cabelos curtinhos, acaba confundida pela vizinha Lisa (Jeanne Disson) com um menino. Apresenta-se, então, como Mickäel e, a partir daí, decide assumir a farsa para os demais amiguinhos. O mais interessante de “Tomboy” é a forma com que a cineasta testa o espectador ao introduzir a temática da sexualidade. A discrição e o cuidado são invejáveis. O roteiro constrói a personalidade de sua protagonista como uma pessoa já consciente de sua condição “diferenciada”, mas que jamais busca mudar ou moldar-se à estética padrão. A sociedade em que a história se insere garante a simplicidade da produção. A família de Laura a aceita como ela é. A deixa se vestir como deseja. E não a julga. A relação com os pais é carinhosa. Laura é uma criança que ainda gosta do colo do pai e da mãe e divide com a irmã menor as brincadeiras pertinentes a idade da caçula. É com a irmã - cúmplice que ela compartilha os momentos mais divertidos, em uma relação bonita e de grande química entre as talentosas Zoé Héran e Mallon Lévanna.
“Tomboy” é um longa ousado de temática importante, mas que aborda sem exageros ou dramatizações melodramáticas situações corriqueiras em filmes sobre o assunto, as quais não resistem à delicadeza da cineasta, que fala como poucos sobre sexualidade. A cena mais delicada é a que desvenda o sexo do “garoto”. Laura e a irmãzinha estão no banho. Tudo é feito com uma delicadeza e naturalidade surpreendentes. Nada é gratuito.
A força do filme está na primorosa interpretação de Zoé Héran. Ela é sensacional. Céline sabia que, se não encontrasse a intérprete certa, seria melhor desistir do projeto. Ela não queria transformar a personagem numa caricatura nem numa aberração. Zoé superou sua expectativa.
domingo, 29 de janeiro de 2012
A força social do cinema iraniano
“A Separação”, de Asghar Farhadi, e ”Isto Não é Um Filme”, de Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi, são destaques na mostra “O Amor, a Morte e as Paixões”
Qual o papel do cinema na atual sociedade iraniana? Como é possível o florescimento da arte cinematográfica num país islâmico com um governo altamente repressor comandado pelo ditador Mahmoud Ahmadinejad? Respostas para estas perguntas podem ser encontradas em “A Separação”, de Asghar Farhadi, “Isto Não é Um Filme”, de Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi, representantes do cinema iraniano na mostra “O Amor, a Morte e as Paixões”, em cartaz no Cine Lumière Bougainville até o dia 9 de fevereiro.
Os filmes em questão são prova da efervescência política e cultural em andamento no Irã desde o fim da Guerra Irã-Iraque e a transição de governos. A sociedade iraniana, amordaçada por tantos anos, quer mostrar que seu país não pode ser reduzido a notícias de estereótipos divulgados pelas grandes redes de comunicação, tampouco moldada àquela imagem veiculada na propaganda política.
O universo iraniano é muito mais complexo e rico e o cinema, mais do que um produto cultural, é uma prática social, valioso tanto por si mesmo quanto pelo que pode revelar dos sistemas e processos culturais do país. Não se pode esquecer que artistas e intelectuais iranianos estão constantemente sob censura. Opositores são perseguidos e mortos e jornais reformistas são fechados. Todo o sistema de comunicação é controlado pelo governo e até mesmo a censura aos meios de comunicação é garantida pela constituição. O cinema torna-se assim uma importante ferramenta de expressão dos iranianos fora do país.
“A Separação”, de Asghar Farhadi, é o mais badalado da mostra “O Amor, a Morte e as Paixões”. O filme saiu do Festival de Berlim 2011 com o Urso de Ouro e o Urso de Prata para os quatro protagonistas (Leila Hatami, Sareh Bayat, Peyman Moadi e Shahab Hosseini). No início do ano recebeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Na terça-feira, 25, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e ao Oscar melhor roteiro original, além de ter sido a produção internacional preferida das associações de críticos de Nova York, Toronto e Chicago.
Todos os prêmios são justificáveis. Asghar Farhadi usa o tema do divórcio e as regras do rígido mundo islâmico como detonadores de tramas que possuem apelos irresistivelmente fascinantes e universais. Farhadi, que tem 39 anos e que já conhecemos por seu filme “Procurando Elly”, de 2009, (ganhador do Urso de Prata na categoria melhor diretor em Berlim), foi criticado pelas autoridades de seu país por mostrar o que acharam que eram as misérias do povo iraniano e não seus feitos notáveis. O diretor Farhadi, ao receber o Globo de Ouro, disse lacônico: “Meu povo é um povo que ama a paz”. Mas, fiel aos costumes muçulmanos, não apertou a mão de Madona que lhe entregou o prêmio.
Na primeira cena de “A Separação”, Simim (Leila Hatami) quer sair do Irã e, com isso, deixar para trás o ranço de uma sociedade que limita as liberdades da mulher. Nader (Peyman Moadi) até cogita a possibilidade de se mudar com a mulher e a filha para o exterior, mas não naquele momento. Ele tem de ficar no país para cuidar do pai que sofre de Alzheimer. Num gesto desesperado, ela pede a separação: quem sabe a ausência não faça o marido mudar de ideia? Eles estão diante do juiz e ela precisa que o marido autorize a viagem da filha. O divórcio se faz necessário porque no Irã uma mulher só pode viajar sozinha se for solteira. O marido aceita o divórcio, mas se recusa a permitir que filha viaje.
Na sequência seguinte, Simin faz as malas e volta a morar com sua família e Nader contrata Razieh (Sareh Bayat) para cuidar do velho doente. Sem nenhuma experiência como enfermeira, Razieh, que é uma muçulmana muito devota, tenta ajudar o marido desempregado (Shahab Hosseini) nas despesas, mas não conta para ele que está trabalhando na casa de um homem recém-separado para cuidar de outro homem, mesmo que este seja um velho doente. Ultra devota, Razieh entra em conflito com suas tarefas cotidianas, que incluem trocar e banhar o patrão idoso. Outros problemas familiares afloram, como a necessidade de levar a filha para o serviço. Um descuido dela vai desencadear uma série de segredos, mentiras e mal-entendidos, que culminam em calorosas discussões na justiça. Assim, boa parte do filme se desenvolve em uma salinha improvisada dentro do fórum onde funciona um tribunal.
É aí que a trama se torna mais interessante. A estratégia de armação narrativa pela qual “A Separação” opera é uma fábula cinematográfica típica: há um acontecimento repentino e de causa indiscernível que fomentará e contraporá uma quantidade infinda de pontos-de-vista, versões e opiniões sobre não somente o possível culpado, mas todos os envolvidos. As histórias de Razieh e Nader esbarram num sistema judicial que evidencia a existência de um Estado autoritário, teocrático e machista, num contexto em que o poder de decisão dos personagens parece a cada momento escapar-lhe das mãos. Ao contarem as suas versões dos fatos que os levaram ao tribunal, os envolvidos lembram os personagens de “Rashomon”, filme do japonês Akira Kurosawa que ganhou o Leão de Ouro em 1951. Nele as impressões sobre um crime variavam ao sabor dos relatos de cada um dos implicados, inclusive com a versão do fantasma da vítima. A mesma volatilidade sobre a verdade emerge no drama iraniano. Aqui os conflitos se amontoam e embaralham cada vez mais, a partir do acontecimento que leva ao tribunal e sobre o qual ninguém parece ter certeza. Porém, nenhum deles está disposto a descer de sua altivez, baixar seu orgulho e deixar de lado o conflito cuja razão-de-ser passa a importar menos do que como resolver o impasse.
No ringue jurídico, cada round resulta em uma discussão meticulosa sobre a elaboração da verdade. E ao espectador cabe acompanhar as oscilações das próprias emoções ao sabor do que cada um sabe e diz. E “A Separação” em si se transforma em uma trama metafórica que retrata uma microssituação que remete ao universo macro dos conflitos da cultura islâmica e mais precisamente do Irã, onde obstinação e o orgulho, travestidos de honra cultural ou religiosidade, estão acima de tudo, e onde a resolução pacífica parece um tanto quanto distante. O emaranhado de problemas só crescerá exponencialmente a cada tentativa de solucioná-lo. Vale destacar como o diretor encaminha a história e cria diversas tramas e subtramas a partir de um detalhe que parece absolutamente simples para nós, ocidentais: uma separação. O filme que começa de cara com a questão da separação, vai além do entendimento afetivo do casal, e de repente se amplia. Logo se converte num painel que parte do privado para o público, sem, no entanto perder o foco da separação. Tudo que acontece tem como ponto de partida as dificuldades de entendimento que leva a decisão de um divórcio. As questões subjacentes dão densidade a tudo que se vê em uma separação: e a verdade? E a ética? E a mentira? E a fidelidade? E o pecado? E a abnegação? Os testemunhos e os falsos testemunhos? O papel dos vizinhos? E não é a falta de diálogo que leva à separação?
A opção por filmar a maior parte da produção com uma câmara na mão é um trunfo do cinema de Asghar Farhadi. A câmara trêmula adquire uma única conotação, um único sentido e função — que se tornaram um tanto quanto predominantes no cinema contemporâneo: aproximar-se do drama de personagens condenados, para melhor enxergarmos suas dores e suas lágrimas. Numa discussão fervorosa entre dois personagens, o diretor prefere dar ênfase ao rosto de um terceiro que lhes observa, passivo e açoitado. Este rosto pede que a briga cesse, que o orgulho cesse. É assim que Asghar Farhadi ajuda o público ocidental a lidar com a diferença de valores islâmicos, uma cultura em que para o homem é mais importante que sua mulher não tenha contato com outro homem do que ser agredida.
Se tivesse focado seu filme na questão pura e simples da separação de um casal esclarecido e bem formado na sociedade iraniana de hoje, cerceada e censurada pelo autoritário Mahmoud Ahmadinejad, Asghar Farhadi já teria feito um filme e tanto. Mas o cineasta extrapola as diferenças culturais, sociais e econômicas e expõe a alma humana na sua fragilidade mais íntima de forma intensa e perturbadora. Impossível não se emocionar na sequência final em que o diretor recoloca o espectador diante do mesmo problema do plano inicial: “um casal se separou — com quem fica a filha”? Espantosamente perfeito, com o diretor dividindo esteticamente num plano, duas posições, dois afetos, duas difíceis escolhas.
Isto é um grande filme de guerrilha
Qual o papel do cinema na atual sociedade iraniana? Como é possível o florescimento da arte cinematográfica num país islâmico com um governo altamente repressor comandado pelo ditador Mahmoud Ahmadinejad? Respostas para estas perguntas podem ser encontradas em “A Separação”, de Asghar Farhadi, “Isto Não é Um Filme”, de Mojtaba Mirtahmasb e Jafar Panahi, representantes do cinema iraniano na mostra “O Amor, a Morte e as Paixões”, em cartaz no Cine Lumière Bougainville até o dia 9 de fevereiro.
Os filmes em questão são prova da efervescência política e cultural em andamento no Irã desde o fim da Guerra Irã-Iraque e a transição de governos. A sociedade iraniana, amordaçada por tantos anos, quer mostrar que seu país não pode ser reduzido a notícias de estereótipos divulgados pelas grandes redes de comunicação, tampouco moldada àquela imagem veiculada na propaganda política.
O universo iraniano é muito mais complexo e rico e o cinema, mais do que um produto cultural, é uma prática social, valioso tanto por si mesmo quanto pelo que pode revelar dos sistemas e processos culturais do país. Não se pode esquecer que artistas e intelectuais iranianos estão constantemente sob censura. Opositores são perseguidos e mortos e jornais reformistas são fechados. Todo o sistema de comunicação é controlado pelo governo e até mesmo a censura aos meios de comunicação é garantida pela constituição. O cinema torna-se assim uma importante ferramenta de expressão dos iranianos fora do país.
“A Separação”, de Asghar Farhadi, é o mais badalado da mostra “O Amor, a Morte e as Paixões”. O filme saiu do Festival de Berlim 2011 com o Urso de Ouro e o Urso de Prata para os quatro protagonistas (Leila Hatami, Sareh Bayat, Peyman Moadi e Shahab Hosseini). No início do ano recebeu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Na terça-feira, 25, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro e ao Oscar melhor roteiro original, além de ter sido a produção internacional preferida das associações de críticos de Nova York, Toronto e Chicago.
Todos os prêmios são justificáveis. Asghar Farhadi usa o tema do divórcio e as regras do rígido mundo islâmico como detonadores de tramas que possuem apelos irresistivelmente fascinantes e universais. Farhadi, que tem 39 anos e que já conhecemos por seu filme “Procurando Elly”, de 2009, (ganhador do Urso de Prata na categoria melhor diretor em Berlim), foi criticado pelas autoridades de seu país por mostrar o que acharam que eram as misérias do povo iraniano e não seus feitos notáveis. O diretor Farhadi, ao receber o Globo de Ouro, disse lacônico: “Meu povo é um povo que ama a paz”. Mas, fiel aos costumes muçulmanos, não apertou a mão de Madona que lhe entregou o prêmio.
Na primeira cena de “A Separação”, Simim (Leila Hatami) quer sair do Irã e, com isso, deixar para trás o ranço de uma sociedade que limita as liberdades da mulher. Nader (Peyman Moadi) até cogita a possibilidade de se mudar com a mulher e a filha para o exterior, mas não naquele momento. Ele tem de ficar no país para cuidar do pai que sofre de Alzheimer. Num gesto desesperado, ela pede a separação: quem sabe a ausência não faça o marido mudar de ideia? Eles estão diante do juiz e ela precisa que o marido autorize a viagem da filha. O divórcio se faz necessário porque no Irã uma mulher só pode viajar sozinha se for solteira. O marido aceita o divórcio, mas se recusa a permitir que filha viaje.
Na sequência seguinte, Simin faz as malas e volta a morar com sua família e Nader contrata Razieh (Sareh Bayat) para cuidar do velho doente. Sem nenhuma experiência como enfermeira, Razieh, que é uma muçulmana muito devota, tenta ajudar o marido desempregado (Shahab Hosseini) nas despesas, mas não conta para ele que está trabalhando na casa de um homem recém-separado para cuidar de outro homem, mesmo que este seja um velho doente. Ultra devota, Razieh entra em conflito com suas tarefas cotidianas, que incluem trocar e banhar o patrão idoso. Outros problemas familiares afloram, como a necessidade de levar a filha para o serviço. Um descuido dela vai desencadear uma série de segredos, mentiras e mal-entendidos, que culminam em calorosas discussões na justiça. Assim, boa parte do filme se desenvolve em uma salinha improvisada dentro do fórum onde funciona um tribunal.
É aí que a trama se torna mais interessante. A estratégia de armação narrativa pela qual “A Separação” opera é uma fábula cinematográfica típica: há um acontecimento repentino e de causa indiscernível que fomentará e contraporá uma quantidade infinda de pontos-de-vista, versões e opiniões sobre não somente o possível culpado, mas todos os envolvidos. As histórias de Razieh e Nader esbarram num sistema judicial que evidencia a existência de um Estado autoritário, teocrático e machista, num contexto em que o poder de decisão dos personagens parece a cada momento escapar-lhe das mãos. Ao contarem as suas versões dos fatos que os levaram ao tribunal, os envolvidos lembram os personagens de “Rashomon”, filme do japonês Akira Kurosawa que ganhou o Leão de Ouro em 1951. Nele as impressões sobre um crime variavam ao sabor dos relatos de cada um dos implicados, inclusive com a versão do fantasma da vítima. A mesma volatilidade sobre a verdade emerge no drama iraniano. Aqui os conflitos se amontoam e embaralham cada vez mais, a partir do acontecimento que leva ao tribunal e sobre o qual ninguém parece ter certeza. Porém, nenhum deles está disposto a descer de sua altivez, baixar seu orgulho e deixar de lado o conflito cuja razão-de-ser passa a importar menos do que como resolver o impasse.
No ringue jurídico, cada round resulta em uma discussão meticulosa sobre a elaboração da verdade. E ao espectador cabe acompanhar as oscilações das próprias emoções ao sabor do que cada um sabe e diz. E “A Separação” em si se transforma em uma trama metafórica que retrata uma microssituação que remete ao universo macro dos conflitos da cultura islâmica e mais precisamente do Irã, onde obstinação e o orgulho, travestidos de honra cultural ou religiosidade, estão acima de tudo, e onde a resolução pacífica parece um tanto quanto distante. O emaranhado de problemas só crescerá exponencialmente a cada tentativa de solucioná-lo. Vale destacar como o diretor encaminha a história e cria diversas tramas e subtramas a partir de um detalhe que parece absolutamente simples para nós, ocidentais: uma separação. O filme que começa de cara com a questão da separação, vai além do entendimento afetivo do casal, e de repente se amplia. Logo se converte num painel que parte do privado para o público, sem, no entanto perder o foco da separação. Tudo que acontece tem como ponto de partida as dificuldades de entendimento que leva a decisão de um divórcio. As questões subjacentes dão densidade a tudo que se vê em uma separação: e a verdade? E a ética? E a mentira? E a fidelidade? E o pecado? E a abnegação? Os testemunhos e os falsos testemunhos? O papel dos vizinhos? E não é a falta de diálogo que leva à separação?
A opção por filmar a maior parte da produção com uma câmara na mão é um trunfo do cinema de Asghar Farhadi. A câmara trêmula adquire uma única conotação, um único sentido e função — que se tornaram um tanto quanto predominantes no cinema contemporâneo: aproximar-se do drama de personagens condenados, para melhor enxergarmos suas dores e suas lágrimas. Numa discussão fervorosa entre dois personagens, o diretor prefere dar ênfase ao rosto de um terceiro que lhes observa, passivo e açoitado. Este rosto pede que a briga cesse, que o orgulho cesse. É assim que Asghar Farhadi ajuda o público ocidental a lidar com a diferença de valores islâmicos, uma cultura em que para o homem é mais importante que sua mulher não tenha contato com outro homem do que ser agredida.
Se tivesse focado seu filme na questão pura e simples da separação de um casal esclarecido e bem formado na sociedade iraniana de hoje, cerceada e censurada pelo autoritário Mahmoud Ahmadinejad, Asghar Farhadi já teria feito um filme e tanto. Mas o cineasta extrapola as diferenças culturais, sociais e econômicas e expõe a alma humana na sua fragilidade mais íntima de forma intensa e perturbadora. Impossível não se emocionar na sequência final em que o diretor recoloca o espectador diante do mesmo problema do plano inicial: “um casal se separou — com quem fica a filha”? Espantosamente perfeito, com o diretor dividindo esteticamente num plano, duas posições, dois afetos, duas difíceis escolhas.
Isto é um grande filme de guerrilha
“Isto Não é Um Filme” retrata o cotidiano solitário e claustrofóbico do diretor de "O Balão Branco”, "O Círculo" e "Ouro Carmim"
No Festival de Cannes deste ano, quando a atriz Juliette Binoche dava entrevista coletiva para falar do filme “Cópia Fiel”, do diretor iraniano Abbas Kiarostami, ela caiu em prantos. Emocionou-se ao fazer um apelo internacional pela libertação dos cineastas iranianos perseguidos, mais especificamente por Jafar Panahi. Preso em dezembro de 2010 sob acusação de estar envolvido em atividades que atentam contra a segurança nacional e de fazer propaganda contra a Revolução Islâmica, mobilizou em sua defesa diversas comunidades ocidentais, incluindo os festivais de Cannes, Berlim, Locarno, Rotterdam e Karlovy Vary; associações internacionais de cinema e até cineastas de Holywood, como Martin Scorsese, Steven Spielberg e Francis Ford Coppola. Ainda assim, foi libertado somente depois de uma semana de greve de fome e o pagamento de fiança, passando a cumprir prisão domiciliar enquanto aguardava uma apelação do recurso à sua sentença.
Festejado ou premiado nos principais festivais internacionais, Jafar Panahi, o realizador de “O Balão Branco”, “O Círculo” e “Ouro Carmim”, não cumpriu a pena imposta pelo governo de Mahmoud Ahmadinejad. Assim, entre a proibição do governo e a vontade do diretor de expressar suas opiniões, ele resolveu fazer esse não filme batizado de “Isto Não é Um Filme”, espécie de interpretação corajosa de seu veredito: mesmo se o diretor não pode filmar nem escrever roteiros, nada o impede de ser filmado por um amigo, e de ler o seu próprio roteiro já escrito.
O ponto de partida da realização é explicado pelo cineasta ao contar uma piada em “Isto Não é Um Filme”. “O que fazem as cabeleireiras quando não trabalham? Cortam os cabelos umas das outras”, diz o cineasta. Assim, o que faz um cineasta quando é proibido de filmar? Filma outro cineasta. Assim “Isto Não é Um Filme” foi realizado com a cumplicidade indispensável de um colega e compatriota, o codiretor Mojtaba Mirtahmasb, também preso e acusado de “espionagem” no Irã.
Assim “Isto Não é Um Filme” é assinado pelo amigo e colega de profissão de Panahi, Mojtaba Mirtahmasb. O nome do filme remete ao famoso quadro “Isto Não é um Cachimbo”, em que o pintor surrealista belga René Magritte expõe a imagem de um cachimbo ao mesmo tempo em que insere um texto sob o objeto afirmando não se tratar de um cachimbo. Assim como Magritte, que provoca o observador indicando que a obra não contém o objeto em si e somente uma representação do objeto, a obra de Panahi foi concebida para representar um filme que não existe, já que, calado pela censura, não pôde de fato fazê-lo.
O documentário foi enviado ao Festival de Cannes gravado em um pen drive, dentro de um bolo, onde foi exibido pela primeira vez. Depois disso, foi mostrado em importantes festivais do mundo, dando força ao protesto internacional contra esse tipo de repressão. Quando o filme foi exibido em Cannes, Panahi se encontrava em prisão domiciliar, aguardando novo apelo às autoridades iranianas.
No filme vemos um dia na vida do cineasta, ao telefone, encenando as filmagens de um novo trabalho. É tocante sua aflição. Se não pode sair de casa, recebe visitas. Parece uma vida confortável, mas não é. Uma câmera de vídeo digital flagra-o tomando café da manhã, conversando com a advogada, alimentando sua iguana de estimação, revendo suas obras. Com uma fita crepe, ele delimita os espaços do cenário num tapete e narra sua próxima história: a da moça prestes a entrar na faculdade que fica trancafiada em casa pelos pais fundamentalistas. Para dar uma ideia da imagem e dos planos que gostaria de fazer, Panahi mostra referências de outros filmes, em DVD, mas de vez em quando ele não consegue continuar sua encenação, se levanta e vai chorar fora do alcance da câmera. “Isto Não é Um Filme” é memorável não apenas por seu engajamento político (o “fazer arte a qualquer preço”), mas acima de tudo pela exposição sem concessões que Panahi faz de sua intimidade, de sua tristeza, de sua vontade frustrada de trabalhar com o que gosta. O projeto é um reflexo da frustração deste homem, que passa seus dias pensando em como filmar, e que decide se aventurar nesta espécie de terapia rudimentar, destinada a apaziguar seus desejos de cinema. Próximo ao desfecho, um rapaz aparece para pegar o lixo e, numa conversa de elevador, esse estudante de arte revela seus dissabores com o regime de Ahmadinejad. Mero acaso ou uma encenação planejada? Pouco importa.
O que o filme não narra são os fatos ocorridos após a produção de “Isto Não é Um Filme”. A despeito de todos os protestos internacionais, Jafar Panahi foi condenado publicamente a seis anos de prisão e 20 anos sem filmar, escrever roteiros, dar entrevistas ou sair do país. As notícias sobre o diretor de cinema cessaram desde então. Enquanto Jafar Panahi está preso, outros diretores também sofrem com a ditadura islâmica, como Mohsen Makhmalbaf (de “A Caminho de Kandahar”), que vive no exílio com a família e o próprio Mojtaba Mirtahmasb (codiretor deste documentário), que teve seu passaporte confiscado e impedido de divulgar “Isto Não é Um Filme” no exterior.
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