
Contrariando o que o nome sugere, “Out of the game” mostra que seu
criador não está fora do jogo de fazer boas músicas.
No
ano passado, quando começaram a surgir as primeiras notícias sobre “Out of The
Game”, sétimo
álbum de material inédito de Rufus Wainright, o disco do compositor nascido em
Nova Iorque e criado no Canadá era anunciado como o álbum mais pop de carreira do artista. A
idéia inicial era espelhar o álbum nos trabalhos de Elton John, de quem
Wainright nunca escondeu sua admiração. Para tanto Wainwright convocou um time
brilhante: Martha Wainwright, irmã de Rufus, que também segue carreira como
artista, o guitarrista do “Yeah Yeah Yeahs”, Nick Zinner, Sean Lennon (sim, o
filho de John Lennon), Nels Cline, que é guitarrista do “Wilco” e o vocalista
Andrew Wyatt da banda sueca “Miike Snow”. As expectativas gerais para “Out of
the game”, que foi lançado oficialmente em primeiro de maio passado eram mudanças
e revoluções.
Não é isso que nos é entregue em “Out
of the game”. O cantor e compositor realmente deu uma levada pop ao disco, mas
a melancolia, marca registrada de todas suas produções anteriores, desde a
estréia em 1998, continua em destaque. É verdade que o disco espelha-se no
Elton John dos anos 70 e que o disco é o mais leve do artista, desde sua
estréia em 1998, graças à parceria com Mark Ronson, produtor de discos de Amy
Winehouse, Robbie Williams, Lily Allen e Duran Duran, mas família e relações humanas ainda dão
o tom das canções de Rufus.

Membro
de uma excelente família de músicos e conhecido não apenas por sua ótima
produção criativa, como também por suas famosas reinvenções de faixas como Hallelujah,
de Leonard Cohen, e Across the Universe, dos Beatles,
Rufus Wainwright ganhou destaque nos anos 2000 sem ter que se encaixar em possíveis
nichos. Ele já passou pelo som operístico, sem, contudo ser erudito, pelo
melhor do estilo gay, passando longe de ser dançante e até mesmo ousando fazer
um disco somente com músicas de Judy Garland. Agora adere ao pop, mesclando-o
com tons de soul, gospel e até mesmo pelo R& B e faustosos musicais da Broadway.
“Montauk”,
uma balada triste, levada pelo som do piano, coloca Rufus versando sobre
família e relações humanas. Ele fala especialmente da filha Viva Katherine Wainwright,
fruto de seu relacionamento com uma amiga de longa data, Lorca Cohen ( filha de
Leonard Cohen). Com ela e o parceiro de longa data, Jorn Weisbrodt, Rufus cria a filha Cohen na cidade canadense que dá nome à canção
.
Em “Candle”, ele reafirma que ainda
não superou a morte da mãe, ocorrida em 2010.
A balada docemente fúnebre incursiona pelo folk-country, ressalta a
tristeza que não sai da voz, letra e olhos do artista. Com sua letra
metafórica, ele canta: “But the churches have run out of candles”. Última frase da canção, acompanhada
por uma gaita de fole que dá à canção uma discreta e faz-toda-a-diferença
pegada escocesa.
Rufus ainda consegue abrir o coração na balada
levemente jazzística "A song for you". Aqui ele conta como lidar com
as reclamações de seu companheiro, Jorn Weisbrodt, de que nunca havia feito uma
canção para ele. "Há muitas letras para escolher/ Mas há uma só para
você", devolve ele, numa interpretação ainda mais expressiva por causa do
coral gospel que o acompanha ao longo do disco.
O soul "Perfect man", foi
composta por Rufus com intenção de fazer um dueto com Neil Tennant, dos Pet
Shop Boys, que rejeitou o convite por achar que a música tinha muitos acordes. O
disco destaca ainda “Jericho”, que passaria fácil como uma composição
de Sir Elton John nos tempos áureos, mas com uma levada gospel,
"Barbara" e "Rashida". Todas as canções conjugam
inteligentes harmonias, exuberância operística e bom senso pop em embalagem atemporalmente
radiofônica. O coral de apoio de “Barbara” merece referência especial.
“Bitter Tears”
é a canção mais pop, mais anos 80, mais
“alegre” de todo o alinhamento, e provavelmente de toda a sua discografia. É
impossível não viajar ao som dos sintetizadores. A música entra por caminhos
mais dançantes, diametralmente opostos aos de “Respectable Dive”, balada em
jeito de valsa apoiada na secção vocal. “Sometimes You Need” é calma e um dos
mais simples e belos momentos do disco, é só fechar os olhos, deixarmo-nos
absorver pelas palavras de Rufus e apreciar sem pressas.
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