domingo, 5 de agosto de 2012

O pop anárquico e refinado de Rufus Wainright



Contrariando o que o nome sugere, “Out of the game” mostra que seu criador não está fora do jogo de fazer boas músicas.

No ano passado, quando começaram a surgir as primeiras notícias sobre “Out of The Game”, sétimo álbum de material inédito de Rufus Wainright, o disco do compositor nascido em Nova Iorque e criado no Canadá era anunciado como o álbum mais pop de carreira do artista. A idéia inicial era espelhar o álbum nos trabalhos de Elton John, de quem Wainright nunca escondeu sua admiração. Para tanto Wainwright convocou um time brilhante: Martha Wainwright, irmã de Rufus, que também segue carreira como artista, o guitarrista do “Yeah Yeah Yeahs”, Nick Zinner, Sean Lennon (sim, o filho de John Lennon), Nels Cline, que é guitarrista do “Wilco” e o vocalista Andrew Wyatt da banda sueca “Miike Snow”. As expectativas gerais para “Out of the game”, que foi lançado oficialmente em primeiro de maio passado eram mudanças e revoluções.
Não é isso que nos é entregue em “Out of the game”. O cantor e compositor realmente deu uma levada pop ao disco, mas a melancolia, marca registrada de todas suas produções anteriores, desde a estréia em 1998, continua em destaque. É verdade que o disco espelha-se no Elton John dos anos 70 e que o disco é o mais leve do artista, desde sua estréia em 1998, graças à parceria com Mark Ronson, produtor de discos de Amy Winehouse, Robbie Williams, Lily Allen e Duran Duran, mas família e relações humanas ainda dão o tom das canções de Rufus.

Rufus Wainright se alimenta das melhores influências que a música pop pode oferecer, mas não esquece a essência melancólica do folk


Membro de uma excelente família de músicos e conhecido não apenas por sua ótima produção criativa, como também por suas famosas reinvenções de faixas como Hallelujah, de Leonard Cohen, e Across the Universe, dos Beatles, Rufus Wainwright ganhou destaque nos anos 2000 sem ter que se encaixar em possíveis nichos. Ele já passou pelo som operístico, sem, contudo ser erudito, pelo melhor do estilo gay, passando longe de ser dançante e até mesmo ousando fazer um disco somente com músicas de Judy Garland. Agora adere ao pop, mesclando-o com tons de soul, gospel e até mesmo pelo R& B e faustosos musicais da Broadway.
“Montauk”, uma balada triste, levada pelo som do piano, coloca Rufus versando sobre família e relações humanas. Ele fala especialmente da filha Viva Katherine Wainwright, fruto de seu relacionamento com uma amiga de longa data, Lorca Cohen ( filha de Leonard Cohen). Com ela e o parceiro de longa data, Jorn Weisbrodt, Rufus cria a filha Cohen na cidade canadense que dá nome à canção .

Em “Candle”, ele reafirma que ainda não superou a morte da mãe, ocorrida em 2010.  A balada docemente fúnebre incursiona pelo folk-country, ressalta a tristeza que não sai da voz, letra e olhos do artista. Com sua letra metafórica, ele canta: “But the churches have run out of candles”. Última frase da canção, acompanhada por uma gaita de fole que dá à canção uma discreta e faz-toda-a-diferença pegada escocesa.

Rufus ainda consegue abrir o coração na balada levemente jazzística "A song for you". Aqui ele conta como lidar com as reclamações de seu companheiro, Jorn Weisbrodt, de que nunca havia feito uma canção para ele. "Há muitas letras para escolher/ Mas há uma só para você", devolve ele, numa interpretação ainda mais expressiva por causa do coral gospel que o acompanha ao longo do disco.

O soul "Perfect man", foi composta por Rufus com intenção de fazer um dueto com Neil Tennant, dos Pet Shop Boys, que rejeitou o convite por achar que a música tinha muitos acordes. O disco destaca ainda “Jericho”, que passaria fácil como uma composição de Sir Elton John nos tempos áureos, mas com uma levada gospel, "Barbara" e "Rashida". Todas as canções conjugam inteligentes harmonias, exuberância operística e bom senso pop em embalagem atemporalmente radiofônica. O coral de apoio de “Barbara” merece referência especial.

“Bitter Tears” é  a canção mais pop, mais anos 80, mais “alegre” de todo o alinhamento, e provavelmente de toda a sua discografia. É impossível não viajar ao som dos sintetizadores. A música entra por caminhos mais dançantes, diametralmente opostos aos de “Respectable Dive”, balada em jeito de valsa apoiada na secção vocal. “Sometimes You Need” é calma e um dos mais simples e belos momentos do disco, é só fechar os olhos, deixarmo-nos absorver pelas palavras de Rufus e apreciar sem pressas.



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