segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um fábula sombria e comovente

O Curioso Caso de Benjamin Button é um espetáculo cinematográfico sobre sincronicidade, sobre a relação física no tempo e no espaço entre aquilo que se deseja e aquilo que se faz para realizar sonhos. Todo o filme comprova o fato de que a vida não é medida em minutos. A vida é medida em momentos.











Gostei imensamente de O Curioso Caso de Benjamim Button, filme de David Fincher que vi na sexta-feira, dia de estréia, na sala 5 do Grupo Severiano Ribeiro, no Flamboyantt Shopping Center. O filme me marcou profundamente porque apesar de celebrar a vida, fala o tempo inteiro de morte e nos dá uma lição ao provar que as experiências de vida nos mostra que quanto mais a gente ama, mais tem a certeza de que um dia vai perder tudo aquilo. É doloroso, mais inevitável.Benjamin Button foi criado nos anos 20 pela mente de F. Scott Fitzgerald , o autor de O Grande Gatsby e O Último Magnata. Fitzgerald foi inspirado por um pensamento de Mark Twain (1835-1910) na qual o autor de Huckleberry Finn dizia que " a vida seria infinitamente mais feliz se nós pudéssemos nascer com a idade de 80 anos e gradualmente nos aproximássemos dos 18. Benjamim Button é um homem que nasce velho e morre bebê.
Ao transportar o conto para ás telas de cinema, David Fincher, o diretor de Seven (1995), Clube da Luta (1999) e Zodíaco (2007) consegue superar seus trabalhos anteriores com um drama talhado para conquistar várias estatuetas no próximo Oscar. Além de bastante comovente, a história é de uma originalidade ímpar. São quase três horas de duração, que passam batidas, para narrar a tal curiosa trajetória de Benjamin (Brad Pitt). Em 1918, a mãe de um bebê morre no parto e o pai, atordoado com suas feições, deixa o filho na porta de Queenie (Taraji P. Henson), dona de uma pensão para a terceira idade em Nova Orleans. Ela adota a criança, que, embora nascida com aparência de um idoso, remoça, surpreendentemente, com o passar dos anos. Durante décadas, Benjamin vai conhecer prazeres e dissabores da vida. A paixão pela bailarina Daisy (Cate Blanchett) o acompanha por muito tempo.
Vivendo uma vida de trás para frente, Benjamin, magistralmente interpretado por Brad Pitt, combine a experiência da maturidade com a vitalidade de um corpo jovem e sadio mas logo descobbre que sua vida não é ou será diferente do ciclo imposto pela natureza e, a despeito da especulação científica e filosófica que inspirou o conto de Fitzgerald , ela passa o tempo todo se preparando para a morte, ou rodeado dela.
Enquanto os anos passam, Benjamin fica mais novo. Seu cabelo cresce, suas rugas desaparecem aos poucos e seu físico se torna mais vigoroso. Em meio a isso, ele conhece figuras como um pigmeu, um capitão de barco com quem viaja o mundo e a mulher de um diplomata que sonha em cruzar o Canal da Mancha a nado (interpretada por Tilda Swinton). Com ela, o protagonista - então com aparência de uns 60 anos - dá o seu primeiro beijo.
Fincher constrói drama de primeira. Para isso, vai do cômico ao trágico. Ou, frequentemente, mistura os dois – o homem senil, por exemplo, que insiste em dizer que foi atingido sete vezes por um raio, é sempre cortado por divertidas imagens de como isso teria ocorrido. No extremo da tragédia vamos encontrar o Benjamin Button no fim da vida, com cara de adolescente, sendo diagnosticado com a demência típica de muitos idosos – uma condição que conhecemos no mundo real, transformada em algo chocante pela idade aparente da personagem
Mas o amor da vida de Benjamin é Daisy (Cate Blanchett), uma menina que ele conhece na infância. Enquanto ele fica mais novo, ela envelhece. A diferença física entre os dois é sempre bastante visível, até que, em um determinado ponto, os dois finalmente atingem idades parecidas. Só que não terão o prazer de passar a velhice juntos. Pelo menos não da maneira convencional. A paixão é interrompida pela inversão do ciclo natural da vida e a única certeza que perece ficar dessa experiência – além da resignada Daisy dizer que todos usam fraldas nos extremos de suas vidas – é a de que não há escapatória: seja por onde começar, uma vida vai passar, inexoravelmente, por alegrias, descobertas, conquistas e perdas.
Benjamin amadurece com uma tranqüilidade que poucos conhecem em relação à perda. Ele vem de um mundo de pessoas em paz com sua própria mortalidade, portanto não há muita coisa que o assuste.Cada pessoa que conhece é transitória; cada minuto com elas pode ser seu último momento. Mesmo assim, nenhuma dessas pessoas é histérica; todos se satisfazem com o que têm. Portanto, ainda muito jovem, os aspectos mais profundos da morte lhe eram familiares. Ela chega para todos, e nós passamos as nossas vidas focados em outras coisas para evitar pensar sobre essa inevitabilidade. Seu andar para trás só o torna mais consciente de que não podemos nos agarrar às coisa.



As perdas de Button e de Daisy me fizeram pensar muito na perda mais importante de minha vida. Minha mãe, que faleceu no dia 30 de novembro. Em um determinado momento do filme, Button diz que Deus leva as pessoas que a gente ama para a gente ver se consegue ser feliz sem elas. Com a perda de minha mãe, uma pessoa que determinou minha formação de várias formas, que era meu Norte, perdi também a bússola da vida. O vazio que ficou me faz pensar que hoje não preciso mais tentar agradar alguém ou reagir contra algo. Estou verdadeiramente só sobre varios aspectos.
Mas também entendi que como diz a personagem Tizzy ( Mahershalhashbaz Ali), a gente sabe que pode ter as coisas por certo tempo e que depois é preciso deixá-las ir. Podemos tirar o melhor proveito delas enquanto estão por aqui, porém nunca serão nossas. O filme é assim, fala de mortes, perdas e lutos e, ao fazê-lo, acaba construindo, na verdade, uma poderosa representação dos fluxos da vida.
O filme não tem deslizes na técnica. Da maquiagem à direção de arte, notam-se calculadamente os caprichos da produção. Fotografia, maquiagem e cenografia impecáveis fazem com que O Curioso Caso de Benjamin Button" lembre em muitos momentos os filmes do francês Jean-Pierre Jeunet,Eterno Amor e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain). A narrativa também se assemelha a Forrest Gump (1994), o que é compreensível considerando que o roteirista de ambos os filmes - Eric Roth - é o mesmo.



O conto original
Publicado em 1921 e mais tarde reunido à antologia Contos da Era do Jazz, a história original de Benjamin Button imaginada por F. Scott Fitzgerald tem o tom de uma fantasia cômica e por fim melancólica, mas bem menos romântica do que o filme.
Fitzgerald concentra-se em imaginar com humor as consequências de um homem que vivesse a vida ao contrário. Benjamin nasce em Baltimore, em 1860, com uma longa barba e o aspecto de um homem pequeno e encarquilhado de 70 anos. O pai, um empresário respeitável, o obriga a pelo menos raspar a barba para parecer uma criança – estranha, mas ainda assim uma criança. Benjamin já nasce falando, prefere conversar com o avô e filar cigarros do pai a brincar.
A história romântica que ocupa o centro do filme tem papel menor no conto. Benjamin casa com Hildegard, ama-a, tem filhos e progressivamente se desinteressa dela à medida que vai ficando mais jovem e ela, mais velha.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Globo de Ouro consagra ingleses















Já está se tornando rotina o fato dos artistas ingleses levarem a melhor nas festas de premiação do cinema mundial, pelo menos em se tratando de festa hollywoodianas ( Festival de Cannes, Veneza e Berlim são bem diferentes). Não foi diferente no domingo, mas premiações do Globo de Ouro. Os ingleses se destacam mais uma veza vitória notável do filme Slumdog Millionaire, produção britânica de verniz independente de Danny Boyle ( Cova Rasa, Trainspotting, Extermínio, Sunshine). Ganhou Melhor Filme (Drama), Diretor, Trilha Original (A.R. Rahman) e Roteiro (Simon Beaufoy). A também inglesa Kate Winslet levou para casa dois Globos. O longa de Boyle, cineasta revelado no cult Trainspotting (1996) e que vinha da cerebral ficção científica Sunshine– Alerta Solar, chegou ao Globo de Ouro referendado por vitórias em prestigiadas premiações prévias, como a da National Board of Review, a associação do críticos americanos.

O Globo de Ouro é um ótimo termômetro para a festa maior do cinema americano, o Oscar, mas apesar do tradição mais conservadora do Oscar diante de pequenos filmes que se tornam fenômenos – como recentemente foram Juno e Pequena Miss Sunshine –, as chances de Slumdog Millionaire, ainda sem previsão de estreia no Brasil, na briga por estatuetas são boas. A começar pelo longa ser da categoria drama, a mais séria do Globo de Ouro, e ter batido concorrentes como o político Frost/Nixon, o amargo e romântico Foi Apenas um Sonho e a fábula fantástica O Curioso Caso de Benjamin Button. Slumdog Millionaire vem se destacando desde sua estreia no último Festival de Toronto, onde levou o prêmio do público.

Kate Winslet saiu com dois globos - Melhor Atriz (Drama) por Foi Apenas Um Sonho (Revolutionary Road), dirigido pelo marido Sam Mendes, diretor de Beleza Americana, e, que contracena com Leonardo Di Caprio, e ainda ganhou, no início da noite, o prêmio da categoria de Atriz Coadjuvante por The Reader, drama que tem como base temática o Holocausto.

Hiperventilando e dando o tipo de espetáculo das grandes emoções de microfone que normalmente temperam com sabor sem gosto esse tipo de premiação, Winslet pediu desculpas a Merryl Streep (indicada por Mamma Mia!), Anne Hathaway (Rachel Vai se Casar), Kristin Scott Thomas (Il y a Longtemps que je t'aime) Angelina Jolie,(A Troca), de Clint Eastwood. Outra inglesa, Sally Hawkins de Happy Go Lucky ( Simplesmente Feliz), de Mike Leigh, ganhou Melhor Atriz na categoria Comédia/Musical, também mostrou-se sem fôlego no palco. O reconhecimento de Hawkins começou em fevereiro do ano passado no Festival de Berlim, onde ganhou melhor Atriz pelo trabalho no ótimo filme de Leigh.

Outro inglês que fez sucesso em noite de Globo de Ouro foi Tom Wilkinson, por John Adams, que ficou com a prêmio Ator coadjuvante por série, minissérie e filme para TV pelo filme John Adams. E Colin Farrell ficou com o prêmio de melhor ator de comédia ou musical – Colin Farrell, por Na Mira do Chefe





Outros prêmios

Woody Allen começa a fechar o círculo de um dos seus filmes mais bem sucedidos de toda a sua carreira, aos 73 anos, Vicky Cristina Barcelona, que ganhou Melhor Filme categoria Comédia/Musical. Woody não estava presente. Valsa Com Bashir, impactante filme isralense de Ari Folman, ganhou Filme Estrangeiro. Heath Ledger, que faleceu há quase um ano via overdose acidental de remédios controlados, foi de fato o vencedor na categoria Melhor Ator Coadjuvante pelo seu trabalho como o Coringa, em Batman - O Cavaleiro das Trevas.

Mickey Rourke, astro dos anos 80 (Nove Semanas e Meia de Amor) ganhou o Globo de Melhor Ator por The Wrestler, filme de Darren Aronofsky ganhador do Leão de Ouro Festival de Veneza. A vitória de Rourke, que ressurge com aparência facial misteriosamente mudada é o tipo de coisa que Hollywood adora, o chamado comeback, e o discurso dele chamou a atenção , com o ator falando de solidão e cachorros.


CINEMA

Melhor filme em drama – Slumdog Millionaire, de Danny Boyle

Diretor – Danny Boyle, por Slumdog Millionaire

Ator de drama – Mickey Rourke, por O Lutador

Atriz de drama – Kate Winslet, por Foi Apenas um Sonho

Melhor filme em comédia ou musical – Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen

Ator de comédia ou musical – Colin Farrell, por Na Mira do Chefe

Atriz de comédia ou musical – Sally Hawkins, por Simplesmente Feliz


Atriz coadjuvante – Kate Winslet, por The Reader

Ator coadjuvante – Heath Ledger, por Batman – O Cavaleiro das Trevas

Filme em língua estrangeira – Waltz With Bashir, de Israel

Animação – Wall-E

Roteiro – Slumdog Millionaire

Trilha sonora – Slumdog Millionaire

Canção – The Wrestler, de Bruce Springsteen


TELEVISÃO

Melhor série em drama – Mad Men

Ator de série em drama – Gabriel Byrne, por In Treatment

Atriz de série em drama – Anna Paquin, por True Blood

Série em comédia ou musical – 30 Rock

Ator em série de comédia ou musical – Alec Baldwin, por 30 Rock

Atriz em série de comédia ou musical – Tina Fey, por 30 Rock

Minissérie ou filme para TV – John Adams

Ator em minissérie ou filme para TV – Paul Giamatti, por John Adams

Atriz em minissérie ou filme para TV – Laura Linney, por John Adams

Ator coadjuvante por série, minissérie e filme para TV – Tom Wilkinson, por John Adams

Atriz coadjuvante em série, minissérie e filme para TV – Laura Dern, por Recount

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Onde o mau-caratismo tem vez


Quem em Hollywood teria a ousadia de misturar pessoas de meia-idade passando por crises profissionais, pessoais e sexuais, questões de segurança nacional e namoros pela internet ? Ethan e Joel Coen naturalmente. Somente os realizadores de Gosto de Sangue, Fargo e do oscarizado Onde Os Fracos Não Tem vez poderiam colocar em cena Brad Pitt no papel de um imbecil cabeça-oca viciado em Gatorade, chiclete e iPod. Ou de transformar George Clooney em uma pessoa burra, fazendo burrices que envolvem sexo e outras coisa. Ou Frances McDormand achando que valia a pena mostrar suas deficiências físicas...



Quem viu Queime Depois de Ler sabe do que estou falando. O mais recente trabalho de Ethan e Joel Cohen é o que se pode chamar literalmente de filmaço, uma comédia disfarçada como filme de espionagem, onde, a exemplo de Fargo, os irmãos cineastas investigam o lado negro do ser humano, seja da alma, do coração ou mesmo da moral (ou falta de moral). Os personagens em cena fazem de tudo para conseguirem o que querem, ou seja, dinheiro e sexo.O elenco do filme é o que se poderia chamar de milionário, se ele não estivesse trabalhando para Ethan e Joel Cohen, que, na maioria das vezes, realizam filmes de orçamento modesto.



Foi o prestígio dos cineastas colocou em cena John Malkovich como oex-agente Osbourne Cox que está louco para se vingar da CIA que o demitiu, escrevendo um livro de memórias bombástico. Tilda Swinton, que ganhou o Oscar de Melhor Coadjuvante por Conduta de Risco, interpreta a esposa de Ozzie, Katie, que não vê a hora de livrar-se do marido para ficar com o amante. George Clooney um investigador federal chamado Harry Pfarrer, um cara que não quer muita coisa a não ser manter a sua esposa e algumas amantes, entre elas a mulher de Ozzie..


Já Frances McDormand interpreta Linda Litzke, funcionária de uma academia de ginástica que está de uma boa quantidade de dinheiro para fazer diversas cirurgias plásticas,Brad Pitt é Chad, colega de trabalho de Linda, um carinha que parece burro demais para desejar qualquer coisa. Embora o visual de Linda não a agrade, isso não a impede de encontrar pretendes pouco empolgantes pela Internet enquanto trabalha numa academia. E, como o mundo parece ser pequeno demais, ela conhece Harry (Clooney).É com esses retalhos que os irmãos Coen, que também assinam o roteiro, montam uma rede movida a sexo e ego, que une e separa os personagens. O filme mostra uma sociedade preocupada demais com aparências, enquanto que na vida privada todos padecem de um mau caráter crônico.



É o acaso entrando em cena para fazer com que um CD com a gravação do livro de memória de Ozzie vá parar nas mãos de Linda e Chad. Embora não saibam ao certo o que é aquilo, veem no CD a chance de conseguir dinheiro rápido. Mas como em Fargo ou O Sonho de Cassandra ( de Woody Allen), crime e castigo sempre andam juntos, cadáveres começam a aparecer no filme em sequências pra lá de bizarras e completamente inesperada.



Muito embora os Coens afirmem que seu filme é apenas uma comédia, o espectador percebe facilmente o tom crítico que o filme carrega contra o serviço de inteligência dos Estados Unidos. Com um cinema historicamente crítico ao seu país, os Coen mostram uma CIA completamente atrapalhada, com diretores sem noção do que está acontecendo sob seus próprios narizes. É bom lembrar que há bem pouco tempo, o governo norte-americano passou por uma grande polêmica envolvendo a CIA e a intransigência republicana que pretende grampear os cidadões no combate ao terrorismo.



E como diz o chefão da CIA, " O que aprendemos com isso"???Que é possível se ver humor inteligente nas telas de cinema.



Filme em cartaz no Cine Lumiere Araguaia - Sessões às 17 e 21 horas

Araguaia Shopping - Goiânia

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Viva a animação nacional




Longas-metragens de animação dificilmente são produzidos no Brasil e, mais raro ainda, são lançados comercialmente nos cinemas. É bom saber que O grilo azul da animação nacional O Grilo Feliz (2001), de Walbercy Ribas, vive novas aventuras em O Grilo Feliz e Os Insetos Gigantes, que chega hoje aos cinemas e aposta em uma mensagem focada no amplo público consumidor infantil.


O visual 2D do filme anterior é substituído por computação gráfica, ainda bem abaixo das criações da poderosa Pixar, mas bastante eficiente para um orçamento apertado. A trama, que Ribas dirige ao lado de seu filho Rafael, não se trata de uma sequência. O novo filme ganhou contornos mais urbanos do que a primeira animação. Agora, o grilo, que continua adorando a música e a floresta, quer gravar um CD e vai enfrentar alguns problemas de ordem jurídica.

O desejo é o mesmo de um divertido grupo de rap formado por sapos. Todos se unem ao se deparar com a vilã Trambika, que, naturalmente, pirateia as músicas deles.


O filme aborda uma inesperada aventura da luta dos bichos contra a pirataria de CDs. O longa utiliza músicas brasileiras conhecidas e recentes, como Festa, de Ivete Sangalo, e Amor Maior, do Jota Quest, interpretadas, claro, pelo grilo protagonista.



Em cartaz no SR Flamboyant 6 - Sessões às 13h20,15h20,17h20 e 19h10.

70 anos de história






Do começo como cantora de rádio em Santos, passando por atuações em novelas como O Direito de Nascer, Sassaricando, Rainha da Sucata e Terra Nostra até chegar aos dias atuais, são quase 70 anos de história. Lolita Rodrigues abre suas memórias à jornalista Eliana Castro e o resultado pode ser conferido em De Carne e Osso, lançamento da Coleção Aplauso.

A jornalista Eliana Castro abre De Carne e Osso, perfil de Lolita Rodrigues, lançamento da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, relatando seu primeiro contato com a atriz, assistindo Almoço com as Estrelas, programa que Lolita apresentava com o então marido, Airton Rodrigues, nas tardes de sábado, na TV Tupi. Mas sua história começou antes ainda da inauguração da TV Tupi, em 1950, quando foi chamada para substituir Hebe Camargo e cantar o Hino da Televisão Brasileira na festa que marcou o primeiro sinal da televisão no Brasil. Embora sua história se confunda com a história da televisão brasileira, Lolita já dava seus primeiros passos aos dez anos de idade, como cantora do programa Hora Infantil, da Rádio Atlântica de Santos, carreira que a trouxe para programas de rádio da capital paulista.

Nascida Sylvia Gonçalves, descendente de espanhóis, Lolita Rodrigues justifica o título do livro, De Carne e Osso e a fama de ser uma pessoa extremamente simples ao tecer comentários como: “Não me acho melhor que ninguém. Eu sou igual a todo mundo. Esse negócio de celebridade é uma grande bobagem. Quem disse que uma atriz é melhor ou mais importante do que uma dona-de-casa? Cada pessoa tem o seu valor. Cada uma está fazendo o melhor que pode. A vida, para todo mundo, é luta. E cada pessoa luta do seu jeito”.

Começou cantora, mas seu grande sonho foi sempre atuar. Sua sorte foi ter confessado o desejo a Cassiano Gabus Mendes, o primeiro a lhe oferecer algumas oportunidades, pequenos papéis nos teleteatros da Tupi. Aos poucos, Lolita Rodrigues foi conquistando espaço até estrelar, em 1957, O Cordunda de Notre Dame. Desde então, não parou mais.

Ao longo do livro, Lolita Rodrigues desfia recordações de décadas de carreira, revelando detalhes de bastidores de grandes sucessos da teledramaturgia nacional como O Direito de Nascer, de Teixeira Filho, Sassaricando, de Silvio de Abreu, e o remake de A Viagem, de Ivani Ribeiro.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Reedição preciosa




A vida e a obra do comediante mexicano Mario Moreno, conhecido como Cantinflas, serão levadas ao cinema pelo cineasta Alejandro Gómez Monteverde, realizador de Bela com o apoio de Hollywood. A rede de televisão NBC e o produtor Jay Weisleder produzirão o filme.


Cantinflas, mais importante ator do cinema mexicano, atuou em mais de 50 filmes e faleceu em 1993, de câncer no pulmão. Ele teve seus dias de glória também em Hollywood, que lhe deu uma estrela na Calçada da Fama e o Globo de Ouro de melhor ator de comédia, pelo filme A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956), além de um Globo de Ouro especial, pelo filme Pepe ( 1960). O roteiro será escrito por Monteverde e José Portillo.

Poesia à flor da pedra






Cida Almeida é formada em Comunicação Social (Jornalismo) e Direito pela Universidade Federal de Goiás. Descobriu a poesia ainda na adolescência, lendo um caderno de uma colega de escola e se deliciando com a palavra “lúgubre”, embora não entendesse seu significado. Mas foi no segundo grau, entre pepitas reagentes, lâminas de cebola ao microscópio, tabela periódica, físico-química e outras ciências do curso profissionalizante de Química que ela descobriu o verdadeiro incêndio de Alexandria, o universo fantástico da biblioteca. E, de cara, a estrela da vida inteira da poesia de Manuel Bandeira. Na Faculdade de Direito participou de um concurso de poesia organizado pelo Centro Acadêmico. Ficou em terceiro lugar, colocação que lhe valeu a publicação do poema em um livro artesanal e elogios do júri do concurso.
Cida, a exemplo de centenas de poetas nacionais, se aventurou pela internet para mostrar sua produção poética. A boa recepção do público, principalmente no site Overmundo (www.overmundo.com.br), deu-lhe o respaldo necessário para inscrever o livro Flor da Pedra na Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Goiânia. Selecionado, o livro foi lançado no dia 3 de dezembro na Fundação Jaime Câmara e depois de pré-lançamento em diversas escolas municipais de Goiânia.
Com passagem por jornais de Goiânia e Brasília – foi correspondente da Sucursal do Correio Brasiliense e de assessorias de imprensa de órgãos públicos –, atualmente trabalha na Assessoria de Imprensa da Secretaria de Ciência e Tecnologia e da Universidade Estadual de Goiás. Cida Almeida escreve sobre literatura para sites de cultura e para o portal da UEG, mantém os blogs Caixinha de Alfazema, Cartas do Paraíso e Diálogos da Esfinge, nos quais publica fotografias, crônicas, poesias e outras invencionices.

Como foi a sua descoberta da poesia, da literatura? Como se deu o seu encontro com a poesia?

Penso que sempre tive um senso poético da vida e das coisas. Um lado muito introspectivo, observador; uma angústia e perplexidade diante da vida e de mim mesma; uma necessidade muito grande de compreender, de dar expressão e materialidade a esses sentimentos e sensações. Também fui uma adolescente solitária e buscava refúgio nos pensamentos e nos livros – aquela fase em que a gente vive mais de imaginação do que de realidade. Cresci numa casa sem livros e não desperdiçava nenhuma oportunidade de leitura. Lia bulas de remédios; jornais velhos que embrulhavam as compras da feira, do açougue; até aqueles livrinhos de western, cheios de pitadas eróticas; tudo que me caía às mãos. Lembro que os primeiros poemas que li foram os de uma amiga (cujo nome nem me recordo), em um daqueles caderninhos que as meninas mantinham como segredos indevassáveis. O dela era só de poesias. Pedi emprestado, levei pra casa. Foi a primeira vez que ouvi e vi escrita a palavra “lúgubre”. Não entendia seu significado, mas achei-a linda. E assim, meio que de repente, comecei a escrever, tentando dar forma àquela vida imaginária de adolescente reprimida, que gostava de ficar no quarto, isolada, lendo e viajando nos pensamentos. O gosto pela leitura ficou cada vez mais aguçado durante o curso ginasial. Lia e escrevia as minhas bobagens. Um dia, sem mais nem quê, descobri que as minhas bobagens, como disse Quintana, tinham virado poesia. No meu caso, um obsessivo exercício de poesia. Isso durante toda a adolescência e juventude.


Naquele tempo você chegou a pensar na possibilidade de publicar o que escrevia?



Poucas vezes me atrevi a mostrar o que escrevia. Participei de um único concurso de poesia, do Centro Acadêmico da Faculdade de Direito, e fiquei com o terceiro lugar, que rendeu até a publicação em um livrinho bem artesanal e comentários elogiosos do professor Eurípedes Leôncio, que era da banca de examinadores. Mas lá pelos meus 25 anos, também sem mais nem quê, dei um basta. Parei de escrever. Na época já estava trabalhando como jornalista e terminando o curso de Direito.

Você tinha desistido da poesia?

Felizmente, apesar do meu descaso, a poesia não desistiu de mim. Em 2005, veio com tudo. Impôs-se como um desejo absoluto, com aquela força de verdade interior, como meu itinerário natural.


O poeta Lêdo Ivo disse uma vez que não teve influências, mas sim convivência. Quais foram as suas convivências ou influências marcantes?


Quem gosta de literatura, poesia, realmente convive com os autores. Em poesia, a grande convivência foi com Drummond, o primeiro poeta da minha alma. Eu lia Drummond como quem lê a Bíblia. Lia para apaziguar as minhas inquietações e angústias, em busca de sentidos mais profundos que os aspectos estéticos e estilísticos. Drummond abria as minhas portas secretas, cutucava as minhas feridas, me ensinava a mergulhar no poço escuro e voltar à tona, a ter coragem, a suportar a dor de existir. Com ele aprendi a conviver com a pedra e a desejar a flor. Lia e recitava Drummond, o meu anjo torto de todas as minguadas horas.


Drummond era absoluto ou você teve outras convivências?

Outra convivência, hoje mais absoluta que a de Drummond, é a de Manuel Bandeira, o Manuel de todas as deliciosas horas, com quem aprendo as sutilezas e delicadezas do fazer poético. Ultimamente, ando “bestando” com Bandeira, de pura admiração pela riqueza de sua poesia e de sua prosa. E o meu pintor de palavras foi Erico Verissimo. Seus livros ficaram gravados em mim como pinturas, quadros em movimento. Depois vieram Machado de Assis, Graciliano Ramos, Baudelaire, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Adélia Prado, Guimarães Rosa, Florbela Espanca, José J. Veiga e recentemente Mário de Andrade, com quem aprendo que escrever é um soberbo tropeção.

Quais são seus propósitos poéticos e como você se relaciona com a poesia?

Fico feliz se com ela eu conseguir comunicar alguma coisa. Também não tenho propósitos poéticos. Apenas o de continuar escrevendo. E aqui repito Adélia Prado: fiz um livro, mas não quero perder a poesia. A poesia é o acontecimento mais importante da minha vida e eu a quero no emaranhado do cotidiano, me animando, me fortalecendo, me recriando, me contando coisas dos meus territórios sombrios, me desnudando, me fazendo mais inteira, me ajudando a decifrar os enigmas da minha existência e do convívio com o outro. Enfim, que a poesia seja sempre esse êxtase de revelação, o meu exercício de vida e morte, no claro e no escuro da existência, a minha carpintaria, a minha escultura, mesmo que volátil.

Ser poeta exige disciplina? Ou o “negócio” é esperar a inspiração e passá-la para o papel? Há quem diga que todo mundo pode escrever poesia e que a criatividade é comum em todo mundo, mas nem todos têm disciplina para desenvolvê-la, já que ela também é um processo cultural e necessita de treino, motivações e exercício diário...

Inspiração não é apenas aquela idéia luminosa que baixa no poeta e escorre para o papel por suas mãos. Há fases em que a gente fica desmotivada, inerte, sem qualquer energia para a poesia. E poesia exige libido em doses fartas, entrega, humildade, escuta, paciência.
Manuel Bandeira, que dava um valor danado à inspiração, tanto que chegou a ficar mais de ano sem escrever poesia por falta de inspiração, dizia que a poesia é feita de pequeninos nadas. E esses nadas são as palavras. Há também aquela passagem célebre entre Degas e Mallarmé em que o pintor dizia ao poeta que tinha muitas idéias para um poema, ao que o poeta retrucou ponderando que a poesia é feita com palavras e não com idéias.

Então é preciso, antes de cultivar idéias, cultivar palavras?

Temos de habitar o cativeiro das palavras. E cativeiro aqui no sentido de cativar e não de cárcere. Às vezes, vou para o computador com uma idéia e a coisa muda de rumo, porque a poesia é voluntariosa, tem vontades que o poeta desconhece, mas se esforça muito por conhecer. A disciplina é escrever, escrever, escrever. E escutar profundamente o que se escreve, ouvir o que a poesia nos conta e tentar dar a ela a beleza esculpida que exige. As delícias insondáveis do poeta são os altos e baixos dessa gangorra entre inspiração e transpiração, a obsessão do burilamento, da lapidação. Nenhum poeta se faz só com inspiração, assim como também não se faz só com esforço, método e disciplina para o trabalho.


Como poeta, qual é a sua perspectiva quanto à poesia?

A de que a poesia seja um acontecimento na vida das pessoas, que ganhe adeptos e que esses adeptos ajudem a formar leitores. A briga é desigual, titânica, pois vivemos numa cultura em que o audiovisual chega antes do livro. Os apelos são infinitos. A criança, quando vai para a escola a fim de ser alfabetizada, já recebeu uma carga extraordinária de estímulos e informações. Já interage com o computador, com aparelhos eletrônicos, manipulando melhor que os adultos botões e controles. E o livro, quando existe no ambiente familiar, é aquele estranho e distante objeto na estante, fora do alcance das crianças. Além disso, se o próprio professor não é leitor e muito menos um leitor de poesia, como é que poderá ajudar a formar público para a poesia? Aí, a poesia acaba mesmo virando aquela coisa para iniciados, com uma aura de chatice difícil de quebrar, com cada poeta no seu canto, fazendo a sua poesia para poucos, editando o seu livrinho de tiragem limitadíssima, sem esquema de distribuição, tudo muito solitário. Por isso, me anima muito ver o que a Elisa Lucinda faz com a poesia, dando a ela enredo, palco, holofotes. Levando a poesia como novidade para conferências empresariais, lonas de circo, teatros populares, salas de recitais; trazendo a poesia para o cotidiano das pessoas, dando a ela um referencial – o espelho transparente da poesia. E também atuando para formar multiplicadores nessa cruzada pela poesia.


Você apresenta várias razões pelas quais escreve. Você realmente acredita que a poesia torna a vida mais suportável ou isso é apenas um jogo de palavras no desvario poético?


Mais do que suportável, a arte, a poesia tornam a vida rica de sentidos, plena de revelações. Em Drummond, duas mãos e o sentimento do mundo. Quando leio meus poetas preferidos busco o aconchego ou a cutucada essencial das palavras para as minhas dores e desassossegos, desbravo mundos que me contam coisas sobre mim. Visito a aldeia de Caeiro e me torno mais calma; viajando pelos mares turbulentos de Álvaro de Campos, me desintegro; reencontro, profundamente, o meu avô no sertão de endoidecer de Guimarães Rosa, deixando-me arrebatar pela voz poeticamente universal de Riobaldo; cavalgo com Hugo de Carvalho Ramos; faço parte da platéia da arena de cavalinhos de Platiplanto; compartilho a intimidade dos quintais de Adélia; deixo-me seduzir pela escultura de cristal da poesia de Cecília e me perco nos labirintos de Clarice. Lembrando as palavras da minha amiga Maria Luiza Oswald: não se trata de aprender literatura e poesia, mas aprender com a literatura e a poesia.

A exemplo de muitos poetas atuais, você começou publicando na internet. Você acredita que a rede seja um bom termômetro para avaliar a possível receptividade do leitor do livro físico?

Não só um bom termômetro sobre a forma pela qual estamos atingindo o leitor. No meu caso, funcionou também e principalmente como sentinela da disciplina do ato de escrever com freqüência. A internet é um excelente começo para o exercício da exposição de quem escreve, já que escrevemos mesmo é para encontrar o outro. E no fundo, como dizia Mário de Andrade, tudo é vaidade, o sujeito publica por vaidade e também não publica por vaidade. Ao invés da vaidade medrosa, preferível a cara a tapa, com a exposição pública. Flor da Pedra é fruto da minha abertura com a internet. De outra forma, acho que nem teria acontecido. E na rede existem canais muito interessantes para quem escreve e quer encontrar a ressonância do olhar do outro. Tem muita coisa “nada a ver”. Mas tem muita gente interessante e com trabalho de alto nível, com a possibilidade de troca de experiências. Isso aconteceu comigo. Quando me atrevi na rede, tinha um foco e encontrei o que eu queria. Foi muito interessante, por exemplo, a experiência no Overmundo, pois tive a oportunidade de publicar no mundo virtual e também de conhecer a poesia de primeira grandeza que está sendo feita no País por jovens poetas – muitos dos quais ainda não publicaram em livro.

Como você avalia o papel da internet como vitrine que põe em evidência o que está acontecendo no mundo da poesia e da literatura em todo o mundo?

A internet é uma feira esfuziante, ruidosa, cheia de apelos e muito instrutiva para quem tem foco e sabe o que procura. Às vezes, até errando a gente encontra coisas interessantes. Na rede, por exemplo, tive o privilégio de ver o Mário de Andrade em um filme brevíssimo, durante uma inauguração, sempre observador e arredio. Um privilégio ter acesso a isso, com um click. Tenho pesquisado e, principalmente, lido muito na internet, especialmente poesia que ainda não foi publicada em livro. Se quero saber mais sobre Dylan Thomas, lá vou eu para os clicks. Entrevistas com autores a que jamais teria oportunidade de acesso no papel, muitas históricas, leio na rede. Por exemplo, encontrei na rede o último exemplar da revista Klaxon, edição em que Mário publicou o Noturno de Belo Horizonte. Também conheci novos poetas de várias regiões do Brasil, com trabalhos magníficos, como Renato Torres e Pedro Viana. São tantos, que nem dá para citar nomes. E, independentemente do livro, a internet é sim uma vitrine que não deve ser desprezada ou ter o seu potencial minimizado.


Há quem diga que somente poeta lê poeta e que é justamente por isso que poesia não vende no Brasil. O que você imagina que aconteceu com a poesia? Foi a banalização ou você atribui outra causa para que ela esteja fora do alcance do leitor?

Tudo tem a ver com público. Poesia não vende porque não há público para poesia. E não há público porque o contato com a poesia é tardio. Comigo só aconteceu no curso colegial. E, felizmente, eu tive alguns professores de literatura que conseguiram não só me apresentar a poesia, mas também, por algum desígnio misterioso, abrir o meu coração para a linguagem poética, mais do que a mente. Então, comecei a ler poesia com a emoção e não com a razão. Poesia deveria fazer parte do programa de formação de professores. E acho que essa missão não é apenas de responsabilidade dos professores de literatura. Se formos investigar profundamente o nosso gosto por literatura, por poesia, por arte em geral, vamos descobrir, lá no fundo, a figura de um professor. E, com certeza, um professor mais sensível e mais atento que os outros. Muitos vêm com essa influência de casa, da família. Mas a imensa maioria só tem oportunidade de conviver com a poesia na escola. E a poesia tinha que começar lá no jardim de infância, quando a criança está completamente disponível para o mundo e principalmente o mundo da palavra. E que esse convívio lúdico com a palavra começasse pelo encanto da poesia. Já imaginou que maravilha uma criança desvendando o mundo das palavras com Cecília Meireles?


Em Goiânia acontece um fenômeno curioso: encontram-se sempre as mesmas pessoas nos lançamentos dos livros de poesia ou mesmo de prosa. O que fazer para ampliar esse público? Qual é a dificuldade de absorção do público com relação à poesia contemporânea?

Se o público não vem, uma alternativa é ir ao público. É difícil para o próprio poeta sair do formato programado de lançamento de livro. Ali, naquele momento, ele é o que menos participa, menos interage. Tenho um amigo escritor que fez um lançamento com 700 pessoas e vendeu menos de 40 livros. Se a coisa é difícil para um autor de prosa, imagine para o poeta! Como meu primeiro livro foi editado com apoio da Lei de Incentivo à Cultura do Município de Goiânia, a minha contrapartida como forma de devolver o investimento ao público é levá-lo para as escolas. Além da doação de livros à biblioteca de várias escolas, para compor as salas de leitura, programei cinco lançamentos em escolas públicas da periferia de Goiânia, nas imediações do bairro onde cresci. E uma das escolas é aquela onde concluí o curso primário. Porém a dificuldade de absorção do público não é só em relação à poesia contemporânea, mas à poesia de modo geral e à arte como um todo. E isso é uma coisa de vivência, não se adquire simplesmente, do nada. Faz parte da formação cultural. O problema é que não temos boa formação.


Quem disse que o escritor só se torna escritor depois de publicado? Basta isso? O escritor se realiza mesmo sem o público? Qual sua expectativa em relação à receptividade do seu livro pelo público?


Mário de Andrade abordou essa questão de forma muito instigante. Ele era um inventor de teorias e uma delas é o que eu chamo de teoria amorosa do texto. Ele dizia que escrevia por amor à humanidade. É um belo e instigante motivo. E dizia também que a pessoa que escreve pra si mesma deve ser um monstro de vaidade. A gente escreve para o outro. Mas não é só isso. A gente escreve mesmo é para encontrar o outro, pois o que eu escrevo só terá função se de alguma forma o leitor se reconhecer naquilo. Aventurar-se no definitivo da materialidade da palavra impressa em livro é um passo gigante e irremediável. É a absoluta perda de controle. Gostei de uma imagem que o poeta Valdivino Braz usou um dia, numa conversa comigo, me aconselhando a liberar logo o livro para impressão: solta o livro-pássaro. O vôo independe de mim. A pedra fundamental de Drummond continuará desafiando, e a estrela de Bandeira luzindo no fim do dia, cada vez que alguém abrir um de seus livros. Enfim, continuará existindo enquanto houver leitor – o outro. Um livro só tem vida se aquecido pelo olhar do outro. Expectativa sobre receptividade ao meu livro? Não sei. Espero que ele pelo menos comunique alguma coisa.


O que você contabiliza mais em sua produção literária: o desgaste ou o prazer? Você acha que está conduzindo bem seus ideais?

Prazer. Sempre prazer. Escrevo por prazer e com prazer. Não sou masoquista. Dor e delícia, na escrita, têm o mesmo peso. Num dos poemas de Flor da Pedra falo justamente disso, fazendo uma viagem pelo universo de Manuel Bandeira, Vida Teodora ou Alegria de Manuel. Quando escrevo, por mais que o meu estado interior esteja às vezes tomado pela dor, é como se eu me benzesse com uns raminhos de alegria, que têm a força de dissolver as sombras, as tristezas. Quando eu e meus irmãos éramos crianças, minha mãe nos levava com freqüência à benzedeira, que pegava uns raminhos de arruda e balbuciava umas palavras. Aí, aqueles raminhos murchavam, e saíamos de lá apaziguados por aquele estranho ritual. Com a poesia é assim pra mim. Ela me benze, me purifica, me energiza, me apazigua, me transporta – tanto que chego a rezar poesia. Assim, tristeza é alegria quando vira poesia. É a alegria da criação. Ideais? Continuar humildemente servindo à poesia e me servindo dela para continuar vivendo.

Como é separar a jornalista da poeta? Dá para fazer poesia em horário de trabalho? Quando a inspiração vem e você está abarrotada de trabalho, o que pesa mais?

Acredito que a jornalista já está separada da poeta. E sempre encontro brechas para a poesia, que logo viram fendas, janelas, portas, horizonte. Ela acontece na dureza do cotidiano, como tem de ser. A minha única disciplina é escrever. Digo até que este meu livro é um livro de intervalos, escrito nas pausas da dureza do trabalho. Não sou aquela pessoa de escrever com horário marcado, numa sala silenciosa, sem vida, sem interrupções. Nesse aspecto, ser jornalista me ajudou a ter desprendimento e predisposição para a escrita nos ambientes mais inóspitos à primeira vista. Barulho exterior, tumulto, nada me afeta quando estou escrevendo, porque é puro êxtase. E não costumo desperdiçar inspiração. O poema Palavra de Mover Montanha foi feito sem anotação. Fiquei batucando ele na cabeça para não esquecer as partes-chave.



Por que o seu livro se chama Flor da Pedra?

Primeiro porque flor e pedra são os elementos que sobressaem em todos os poemas do livro, de uma forma ou de forma. É um título que se construiu e se ofereceu no atrito com a pedra em busca da flor. Flor da pedra também é a linguagem, o primeiro ato de identidade do homem, o elo de ligação com os outros homens. Tanto que não foi um homem qualquer o primeiro a rabiscar nas paredes da caverna, o primeiro que sentiu o impulso de dar materialidade e expressão à sua humanidade, a fazer esse processo de busca de transferência de sentidos. E também porque pedra é a matéria bruta da vida, que se oferece em toda sua integridade para a lapidação da poesia. E a flor, pelo que encerra de beleza, encantamento, forma perfeita, idealizada, é a poesia. A pedra é o que antecede e o que sobreviverá ao homem, seja como espécie ou como indivíduo, no incomensurável da lápide. Pedra também é aquele acontecimento fundamental narrado por Drummond e é sempre íntimo e pessoal. O enigma da convivência com a pedra, o enigma da criação poética, da capacidade e da necessidade do homem de fazer arte. E flor da pedra também é o livro, que abre portas para mundos misteriosos e insondáveis que construímos com palavras, com imaginação, que nos fazem aventurar fora da caverna.

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?

Um poema de Bocage

Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado
O mortal sem querer é conduzido!

Tal, que em grau venerando, alto e luzido,
Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,
Depois com ferros vis se vê cingido:

Para que o nosso orgulho as asas corte,
Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!]

Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;
É lei da natureza, é lei da sorte,
Que seja o mal e o bem matiz da vida.]

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Woody Allen entre Truffaut e Almodóvar





Foi assim:Woody Allen se cansou de Manhattan e resolveu dar um tempo. Como não estava acostumado a climas mais amenos ou por assim dizer, tropical, trocou Manhatan por Londres. Ou seja, seis por meia dúzia. E aproveitou o cinzento da ilha britânica para fazer alguns filmes sobre crime e castigo. Como sempre passa por altos e baixo, realizou o excelente Match Point, o mais ou menos Scoop e outro filme acima da média, batizado de O Sonho de Cassandra. Todos eles interpretados por artistas da ilha, senão todo o elenco, pelo menos a maior parte dele.


Mas chega de enrolação. Este post é para falar do mais recente filme de Woody Allen, cineasta que admiro desde Annie Hall. Já que estava mesmo na Europa, Allen resolveu aceitar o convite de produtores espanhóis para fazer um filme no país. Sob o sol da Catalunha, mais precisamente em Barcelona, ele diretor reencontrou a inspiração para encenar um de seus temas prediletos, a permanente tensão dos relacionamentos amorosos, sempre observados com um interesse voyeur, ao qual acrescentou ainda um ácido contraponto entre as culturas anglo-saxã e latina.


O resultado: Vicky, Cristina Barcelona.Sob o sol e o calor da Espanha e na companhia de dois celebrados atores latinos: o recém-oscarizado Javier Bardem e Penélope Cruz, Allen conduz com maestria as reviravoltas nas vidas das amigas Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson, em seu terceiro filme com Allen), americanas que chegam a Barcelona para passar férias. Cada qual com um objetivo. Vicky, às vésperas do casamento com um executivo americano, quer apenas aprofundar seus estudos em cultura catalã, deslumbrando-se diante das obras de Gaudí, como a gótica catedral da Sagrada Família e o colorido Parque Güel. Já Cristina está de sangue doce, disposta tão somente a usufruir a fartura de prazeres locais.


Precisava mais? Claro. E Allen juntou os personagens que são movidos pela razão, culpa e planejamento metódico com aqueles que riscam seus destinos guiados por emoção, paixão e improviso – ainda que sob o risco de derrapar no clichê da passionalidade e sensualidade latinas. Ao longo da narrativa o espectador tem a impressão de que já viu a trama em algum lugar e pondo a cachola para funcionar chega a conclusão: esse filme bem que poderia ter sido feito a quatro mãos por François Truffaut e Pedro Almodóvar. Isso mesmo, Vicky Cristina Barcelona tem a representação sofisticada dos tortuosos caminhos do amor – com uma aflita Vicky indecisa entre agir com a cabeça ou com o coração- e o tom cômico, a alta voltagem erótica e o vigor melodramático da atuação de Penélope Cruz (impagável), que nunca deixou de ser a atriz predileta de Almodóvar.


As cenas de Penélope Cruz, vale ressaltar, oferecem ao espectador o melhor dranalhão latino, daqueles bem à moda mexicana. Imperdíveis.




Filme assistido no Lumiere – Araguaia Shopping

Paixão por cinema

Leisha Hailey
Minha paixão pelo cinema começou no ventre de minha mãe, ouvindo histórias que meu pai contava para ela quando chegava em casa,vindo do trabalho como porteiro de uma sala de cinema do centro da cidade. Quase fui batizada como Cacilda por conta de Cacilda Becker, de quem meu pai se tornara fã dois anos antes de meu nascimento, assistindo Floradas na Serra, filme dirigido pelo italiano Luciano Salce com roteiro baseado em romance homônimo de Dinah Silveira de Queiroz. Como meusm pais já tinham o Tackson, resolveu trocar o C pelo T e acabei sendo registrada como Tacilda.

Não me lembro de um tempo em que o cinema não fizesse parte de minha vida. Primeiro na TV e depois nas salas escuras. O dinheiro era curto e sempre gasto no cinema, onde me sentia a própria Cecília, personagem de Mia Farrow em A Rosa Púrpura do Cairo.


Não consigo fazer uma lista de meus 10 filmes prediletos – embora já tenha apontado alguns em uma matéria para o jornal Opção ( http://www.jornalopcao.com.br/). Gosto de tudo, aliás, quase tudo, já que atualmente não vejo mais filmes de terror. Isso desde que vi Jogos Mortais, obrigada pela força do trabalho no jornal O Popular (http://www.opopular.com.br/). Ainda gosto de algum terror produzido no Japão, que primam pelo chamado terror psicológico. Gosto de dramas ( mas não de dramalhões) e comédias românticas daquelas estreladas na década de 40 por Katherine Hepburn e décadas depois por Audrey Hepburn.


Não me canso de assistir Bonequinha de Luxo no DVD que tenho em casa e mesmo quando o filme é reprisado nos telecines da vida. Gosto também de rever Harry e Sally - Feitos Um Para o Outro e sempre me lembro que o tradutor comercial do filme no Brasil revelou, no título, o que os personagens de Meg Ryan e Billy Cristal levaram 11 anos para descobrir.

De séries de TV, lembro de esperar ansiosamente pelo capítulo seguinte de Flash Gordon -- tá bom, pode me chamar de velha-- que assistia na TV que mamãe comprou depois de vender um lote só para não ver os filhos indo para a casa do vizinho. Já ri e chorei com Sally Field e as aventuras da Noviça Voadora, com Lindsay Wagner tentando resolver os problemas do mundo em A Mulher Biônica, com Xena, A Gata e o Rato. Chorei quando o dr. Greene morreu em ER ( Plantão Médico) e hoje torço pelo serial Killer Dexter e detesto a Jenny de The L Word, mas me mantenho ligada na série porque adoro a Leisha Hailey e as trapalhadas da Alice. E ainda lamento a morte de Dana, da mesma série.