quarta-feira, 20 de junho de 2012

Ridley Scott promete, mas não cumpre


Visualmente espetacular e sem enredo forte, “Prometheus” banaliza os efeitos especiais


Irregular, mas corajoso. Assim pode ser definido “Prometheus”, um dos lançamentos mais aguardados do ano pelos fãs de ficção científica, principalmente pelos fãs do diretor britânico que tiveram a chance de ver na tela grande de “Alien, o Oitavo Passageiro” (1979) e desde “Blade Runner, o Caçador de Andróides” (1982). A produção não só marca o retorno do Ridley Scott à ficção científica como também o seu reencontro com sua obra-prima “Alien – O Oitavo Passageiro”. E foi anunciado como a obra que tenta explicar a origem da criatura que cresce e se multiplica na produção dirigida por Scott e nas sequências seguintes, cada uma delas assinada por cineasta distinto: James Cameron (“Aliens – O Resgate”), David Fincher (“Alien 3”) e Jean-Pierre Jeunet (“Alien: A Ressurreição”). Assim, quem assistiu aos filmes citados simplesmente não podem deixar de ver Prometheus. Mesmo que ao final da sessão sai do cinema pensando: “É Prometheus, você prometia, mas não cumpriu não”

Até mesmo Scott viu que tinha ido longe demais e no meio da produção do filme, mudou de idéia. O ponto de partida para o novo projeto do filme era revelar quem era uma figura brevemente mostrada em “Alien: O Oitavo Passageiro” o extraterrestre fossilizado (conhecido pelos fãs como Space Jockey) morto pela força misteriosa que posteriormente massacra a tripulação da nave Nostromo. Como “Alien” teve três sequências, o diretor achou mais interessante apresentar o prelúdio da saga. Assim, junto com possíveis respostas, Prometheus lança ainda mais perguntas, que prospectam sobre a origem do homem à luz do debate entre ciência e fé.

Por conta disso,ele acabou realizando um filme que além de irregular e corajoso, o filme também é pretensioso e ambicioso. Em “Prometheus”, Ridley Scott não se limitou ao horror espacial de “Alien”, mas resolveu conjugar o clima angustiante do filme da década de 70 com reflexões filosóficas herdadas de clássicos como “Solaris” (1972) e de “2001 — Uma Odisseia no Espaço” (1968). O resultado, como era de esperar, raramente fica à altura da pretensão de Scott em misturar, ciência, religião e filosofia.

Vale ressaltar, porém, que “Prometheus” não compre o que prometia em termos. De uma forma técnica o filme é impecável. Seus efeitos de som são poderosos, fortes, principalmente nas cenas que retratam a nave que dá título à produção. A trilha sonora está em sintonia fina com a tensão e grandiosidade que pretende provocar. Difícil não se impressionar com as belas sequências, como o prólogo que mostra a criação da vida na Terra ou os minutos em que acompanhamos o dia-a-dia do andróide David. E os cenários e planos aberto mostram com perfeição a pequenez humana diante do universo e da própria natureza humana. A direção de arte cria área que evoca grandeza, como o interior branco e tecnológico da nave, que se choca ao se comprado com o interior estéril e seco da pirâmide alienígena. Nestes quesitos, o filme é impecável.

“Prometheus” se passa no mesmo universo de “Alien, O Oitavo Passageiro”, mas a ação se desenrola três décadas antes, e em um planeta diferente onde existe uma nova geração de alienígenas, capazes de assumir até quatro formas – todas concebidas pelo designer H. R. Giger, responsável pela criatura original. O título Prometheus se refere a uma nave espacial que se desloca em direção a um planeta distante, seguindo uma rota que tem como referência mapas pré-históricos recém-descobertos na Terra. Nessas cartas, há a indicação de um local onde a raça humana teria sido concebida, o que, se comprovado, poderá lançar por terra toda a Teoria Evolucionista de Charles Darwin e pelo menos problematizar a do Criacionismo, defendida por setores mais conservadores do Cristianismo, por exemplo.

Quem lidera a missão de cientistas é a destemida Elizabeth (Noomi Rapace, a Lisbeth Salander da versão sueca de “O Homem Que Não Amava as Mulheres”). Suas razões transcendem a ciência: ela ansia ver de perto o Criador. Acredita que, nesse planeta, travará contato com seres superiores, que ela chama de engenheiros, responsáveis pela criação da Terra e nossos ancestrais mais remotos. Também estariam na origem dos monstros extraterrestres que cresceram e se multiplicaram na série Alien.

“Não dá para assistir “Prometheus” sem lembrar os filmes da cinessérie, principalmente ”Alien, O Oitavo Passageiro” e “Aliens, o Resgate”. Noomi Rapace é a dublê de Ellen Ripley que vira uma guerreira ao longo da projeção e não dá para imaginar quais são as verdadeiras intenções do andróide David, da mesma forma que o Ash de Ian Holm escondia as suas em “O Oitavo Passageiro”. Alguém se lembra do burocrata que não pensa duas vezes antes de disparar contra um companheiro a fim de garantir a própria segurança… E que tal um afro-americano altruísta que em determinado momento do filme resolve se sacrificar para salvar os amigos?

Uma pena que Ridley Scott tenha perdido o jeito de contar história. E contou a de “Prometheus” de qualquer jeito, sem nenhum cuidado em explicar os fatos com clareza… Os engenheiros nos criaram, bacana… Mas e o composto orgânico? Que evoluiu rapidamente para uma espécie de réptil, que transformou um cidadão numa espécie de zumbi alienígena e se desenvolveu numa humana numa espécie de cefalópode… Deixa pra lá. Não dá mesmo para falar de Prometheus e de suas pretensas falhas sem revelar detalhes (spoilers) do filme. Assim resta dizer que a produção contém furos e lacunas gritantes e novamente, que o visual do filme é muito bom e a parte da ação, toda centrada na Naomi Rompace, tem um bom suspense. O conjunto do filme, no entanto, decepciona. E muito.







Prometheus (EUA, 2012)

Direção: Ridley Scott

Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof

Elenco: Noomi Rapace, Logan Marshall-Green, Michael Fassbender, Charlize Theron, Idris Elba e Guy Pearce

Duração: 124 min.




3 comentários:

  1. Na boa...respeito sua posição hoje como crítica, mas não concordo com as suas impressões. Dizer que ele não soube contar a história realmente é a última coisa que eu falaria desse filme. Você me parece como a maioria das pessoas ao assistirem um filme que levanta questões durante o filme. Você procura respostas que não precisam ser respondidas, afinal, não precisamos de todas as respostas, mas pessoas como você querem exatamente todas as respostas, de como surgiram os criadores, de onde vieram e como resolveram, supostamente, criar o ser Humano. Nada disso é comprovado no filme, nem que foram eles que nos criaram, e sinceramente, devemos saber de tudo isso? Porque precisamos de todas essas respostas, a relexão é uma das artes mais fenomenais em se criar um filme e contar uma história e fazer o espectador pensar, rever os acontecimentos e então poder ter sua conclusão, ou suas impressões. Se você quer que o Ridley Scott apresente as respostas a todas as questões levantadas no filme é melhor fazer uma entrevista com ele, e talvez nem ele saiba, e teve tais idéias baseadas em uma essência que dispertou a criação de Alien o oitavo passageiro...ou pode simplesmente ter inventado tudo isso em uma manhã de domingo do nada....

    Me desculpe, respeito você, mas não acho que como uma crítica e apaixonada por cinema, você precisa rever os seus conceitos. Você pelo jeito deve ter odiado o final de Lost também, já que levantam questões que não foram respondidas.

    Além disso, você deve imaginar o quanto é complicado abordar um filme de ficção científica que mistura um pouco de fé, religião, crenças e claro. Dê a sua idéia para um filme melhor então, para contar a história de prometheus...provavelmente seriam então todos os tripulantes conversando durante o filme todo com a criatura (engenheiro) e aí então teremos todas as respostas!

    Não me leve a mal, mas pra mim o filme é uma obra de arte, e ao contrário de achar que ele contou mal a história, você poderia gastar o seu tempo refletindo sobre tudo isso, imaginando e viajando na história que ele contou, ao contrário de ficar querendo que todas as respostas fossem respondidas. Desse jeito é melhor ter um glossário, ou manual no final de cada filme explicando cada acontecimento.

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  2. Meu, você quer saber qual é o composto orgânico que transformou o cara em uma "espécie alienígina"...para com isso...estranho, você não quer saber como é feito o David? Porque ele não tem sentimentos, ou qual é o material que faz com que ele pareça ser um ser humano por fora? Não quer saber como construíram toda aquela forataleza em volta da nave? Como disse, vai fazer uma entrevista com o Diretor que você ganha mais...Se você questiona todos essas informações que não foram explicadas com clareza, devia então, falar todos os defeitos e questões que não foram respondidas em toda a série Alien. Gozado, não vejo você reclamando de Alien o oitavo passageiro, sendo que em 1979 (ano do filme) quando o Ridley Scott criou toda essa história, acredito que a 33 anos atraz, seria completamente normal todos não terem nenhum questionamento em relação a como tudo aquilo estava lá...e tudo que foi contado no filme....tivémos sorte do diretor querer fazer algo para mostrar como foram as coisas antes do oitavo passageiro, mas se não existisse Prometheus então aí sim você então teria motivos para questionar porque não tínhamos respostas às coisas do filme....mas pelo jeito o Prometheus não foi suficiente pra você....pede um manual, ou uma redação, ou glossário pro Ridley Scott via e-mail pra você ter as suas respostas!!!

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  3. Olá! Concordo com o camarada acima sobre a maneira de ver o filme e entender estes pormenores todos. Sendo assim, vou escrever uma complementação:

    Há uma coisa muito importante que, a meu ver, toda crítica de Prometheus deve mencionar: o fato de Ridley Scott ter voltado ao universo de Aliens sem precisar depender do filme original para se sustentar. Noutras palavras: usar Alien, o 8° passageiro, como base marqueteira para atrair o espectador ao cinema. Nalgum momento na criação deste filme deve ter passado a ideia de escrever uma continuação de Aliens, mas, sabiamente, foi adotado o caminho inverso. Posto isso, Prometheus tem ainda o mérito de ser feito para quem nunca ouviu falar de Aliens (mas gosta de uma boa ficção científica) e, ao mesmo tempo, mostra que dá valor ao fã do filme original, sem escancarar referências à ponto de parecerem forçadas. Ou seja, estou falando de mais um mérito.
    Ok, montado nesses termos, minhas impressões sobre o filme são as seguintes:
    Há coisas sem explicação. Há coisas que parecem não fazer sentido. Mas porquê teríamos que sair do cinema com todas as respostas? Com tudo explicado e dissecado até o limite? Não me parece justo um roteiro que cutuca o assunto do surgimento da humanidade terminar com tudo explicado como 1 + 1 é igual a 2.
    Tenho lido algumas críticas onde é possível perceber nitidamente que o crítico a escreveu ligeiramente intoxicado com a atmosfera de Alien. Bom, Alien é simples, direto e tem uma crueza bastante direta, tanto é que a reação ao filme, na época de seu lançamento, foi de terror e agonia por parte de muita gente. É muito fácil perceber que essa não foi o rumo buscado na feitura de Prometheus. A linguagem é muito parecida, claro (afinal, estamos, novamente, vendo a visão de espaço sideral de Ridley Scott), mas a temática é diferente. Se o espectador que assistiu Alien entender isso, vai curtir um bom filme.
    Para finalizar, parece que, independente de qual for sua opinião, você ainda não a desenvolveu por completo. Note:

    "Assim resta dizer que a produção contém furos e lacunas gritantes e novamente, que o visual do filme é muito bom e a parte da ação, toda centrada na Naomi Rompace, tem um bom suspense. O conjunto do filme, no entanto, decepciona. E muito"

    Se tem coisas boas e coisas ruins, então não poderia decepcionar (E MUITO), deveria ser classificado como razoável ou algo assim. Me parece que por trás desse artigo está alguém que foi atrás de uma coisa e achou outra - e acabou, erroneamente, concluindo que o filme é "decepcionante".

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