quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Nada de novo em Operação Valquíria
















A conspiração dos militares alemães para assassinar Adolf Hitler durante a II Guerra, retratada por Brian Singer em Operação Valquíria não tem maiores atrativos além de seu elenco milionário, encabeçado por Tom Cruise como o coronel Claus von Stauf­fenberg, responsável por levar a cabo o assassinato de Hitler, em julho de 1944, quando se desenhava a irreversível derrocada da Alemanha na II Guerra. A história dá conta de que a operação foi um fracasso e que todos os oficiais envolvidos foram executados em 20 de julho de 1944. Além de Cruise, o filme tem no núcleo do complô, militares de alta patente, como o marechal Henning von Tresckow (Kenneth Branagh) e os generais Friedrich Olbricht (Bill Nighy) e Ludwig Beck (Terence Stamp). A tentativa de mandar Hitler pelos ares, junto com seu estado-maior, plantando uma bomba no bunker, em Rastenburg, hoje território da Polônia, também já foi levada as telas em O Plano para Matar Hitler (1990), com Brad Davis no papel do oficial vivido por Tom Cruise. O filme dirigido por Bryan Singer vem se juntar a uma série de novos títulos que endossam o permanente interesse do cinema em mostrar os atores e os episódios de uma das mais odiosas tragédias da história humana.

Nascido na Bavária em 15 de Novembro de 1907, Claus Philip Maria Schenk Graf von Stauffenberg tinha o título de conde e descendia de uma linhagem da nobreza germânica com 700 anos de tradição. Intelectual com gosto pela música, arquitetura e poesia, ele ingressou na carreira militar nos anos 1920 e logo se destacou pela coragem e capacidade de liderança, qualidades que o fizerem ascender rapidamente na hierarquia do exército, tornando-se coronel precocemente. Durante a campanha na África, com a 10ª Divisão Panzer, sofreu sérios ferimentos, perdendo o olho esquerdo, a mão direita e três dedos da esquerda. Nessa época já integrava o oficialato dissidente, que criticava Hitler pelos genocídios contra os judeus, além de seus equívocos militares. Para ele, o massacre de civis era inadmissível em uma guerra.

Desde clássicos O Grande Ditador (1940), clássico dirigido e protagonizado por Charles Chaplin , Sabotador (1942) e Casablanca (1943), Hollywood vem retratando o nazismo e seus vilões – não raramente interpretados por grandes atores como Orson Welles -O Estranho- , Marlon Brando -Os Deuses Vencidos- e Maximilian Schell-A Cruz de Ferro. Além de Hollywood, o cinema internacional também vem contribuindo cada vez mais com outras visões sobre o horror hitlerista. E produções recentes destacaram-se justamente no Oscar.


Em 2004, A Queda - Os Últimos Dias de Hitler-, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mostrava como Adolf Hitler, trancado com seu alto comando em um bunker na Berlim já sitiada pelos soviéticos, ainda acreditava na vitória alemã. O diretor alemão Oliver Hirschbiegel baseou-se em pesquisas do historiador Joachim Fest e em um livro de Traudl Junge – tema do documentário Eu Fui a Secretária de Hitler (2002).O grande ator suíço Bruno Ganz está magnífico no papel do tirano, expressando com intensidade os instáveis estados de ânimo de seu personagem. Já o austríaco Os Falsários, sobre prisioneiros obrigados a falsificar documentos bancários em um campo de concentração, levou a estatueta de melhor filme estrangeiro em 2008, enquanto Katyn, do mestre Andrzej Wajda, a respeito de um massacre de poloneses durante a ocupação alemã, concorreu ao mesmo prêmio no ano passado.

O cinema já provou também que o nazismo não acabou com a rendição assinada pela Alemanha no dia 8 de maio de 1945. Os crimes e a ideologia racista difundida por Hitler e seus asseclas assombram a humanidade ainda hoje. Maratona da Morte (1976) e Os Meninos do Brasil (1978), estrelados respectivamente por Laurence Olivier e Gregory Peck, mostram a impunidade dos monstros nazistas ainda perpetrando crimes – o médico Josef Mengele, encarnado no cinema por Peck, morreu em São Paulo em 1979.

Em O Segredo de Berlim (2006), Steven Soderbergh cria um thriller sobre a ajuda clandestina dos EUA a chefes nazistas no pós-II Guerra. Já o excelente filme francês A Questão Humana (2007) aproxima a lógica do nazismo das modernas técnicas de gestão empresarial.

Entender como pessoas comuns tornaram-se cúmplices dos crimes do nazismo e mostrar como alguns resistiram ao regime são temas que começaram a aparecer no cinema só recentemente. Em A Lista de Schindler (1993) – vencedor de oito Oscar, incluindo melhor filme e direção –, Steven Spielberg contou a história verídica de um empresário alemão simpatizante do nazismo que acabou salvando 1,1 mil judeus da morte.
Uma Mulher Contra Hitler (2005) revelou a história de Sophie Scholl, militante alemã antinazista presa pela Gestapo. A Espiã (2006) mostra a Resistência na Holanda e a cooptação de um oficial alemão por uma agente judia.



Até o super valorizado O Leitor -- que teve cinco indicações ao Oscar deste ano-- traz uma de uma história de fundo emocional sobre os ecos da II Guerra. Entre vaivéns no tempo, mostra-se a relação de Hanna Schmitz (Kate Winslet) e Michael Berg (David Kross e Ralph Fiennes se alternam no papel). Em 1958, esse adolescente de 15 anos perde a virgindade com Hanna (Kate), uma cobradora de bonde 18 anos mais velha. Entre uma transa e outra, Michael lê para a amada, clássicos da literatura. Tempos depois, já separados, ele a reencontra num tribunal. Hanna, uma ex-guarda nazista, está sendo julgada por crimes de guerra.

Dirigido pelo brasileiro Vicente Amorim, Um Homem Bom acompanha a gradual transformação de um pacato professor de literatura em ideólogo do nazismo.