segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Um fábula sombria e comovente

O Curioso Caso de Benjamin Button é um espetáculo cinematográfico sobre sincronicidade, sobre a relação física no tempo e no espaço entre aquilo que se deseja e aquilo que se faz para realizar sonhos. Todo o filme comprova o fato de que a vida não é medida em minutos. A vida é medida em momentos.











Gostei imensamente de O Curioso Caso de Benjamim Button, filme de David Fincher que vi na sexta-feira, dia de estréia, na sala 5 do Grupo Severiano Ribeiro, no Flamboyantt Shopping Center. O filme me marcou profundamente porque apesar de celebrar a vida, fala o tempo inteiro de morte e nos dá uma lição ao provar que as experiências de vida nos mostra que quanto mais a gente ama, mais tem a certeza de que um dia vai perder tudo aquilo. É doloroso, mais inevitável.Benjamin Button foi criado nos anos 20 pela mente de F. Scott Fitzgerald , o autor de O Grande Gatsby e O Último Magnata. Fitzgerald foi inspirado por um pensamento de Mark Twain (1835-1910) na qual o autor de Huckleberry Finn dizia que " a vida seria infinitamente mais feliz se nós pudéssemos nascer com a idade de 80 anos e gradualmente nos aproximássemos dos 18. Benjamim Button é um homem que nasce velho e morre bebê.
Ao transportar o conto para ás telas de cinema, David Fincher, o diretor de Seven (1995), Clube da Luta (1999) e Zodíaco (2007) consegue superar seus trabalhos anteriores com um drama talhado para conquistar várias estatuetas no próximo Oscar. Além de bastante comovente, a história é de uma originalidade ímpar. São quase três horas de duração, que passam batidas, para narrar a tal curiosa trajetória de Benjamin (Brad Pitt). Em 1918, a mãe de um bebê morre no parto e o pai, atordoado com suas feições, deixa o filho na porta de Queenie (Taraji P. Henson), dona de uma pensão para a terceira idade em Nova Orleans. Ela adota a criança, que, embora nascida com aparência de um idoso, remoça, surpreendentemente, com o passar dos anos. Durante décadas, Benjamin vai conhecer prazeres e dissabores da vida. A paixão pela bailarina Daisy (Cate Blanchett) o acompanha por muito tempo.
Vivendo uma vida de trás para frente, Benjamin, magistralmente interpretado por Brad Pitt, combine a experiência da maturidade com a vitalidade de um corpo jovem e sadio mas logo descobbre que sua vida não é ou será diferente do ciclo imposto pela natureza e, a despeito da especulação científica e filosófica que inspirou o conto de Fitzgerald , ela passa o tempo todo se preparando para a morte, ou rodeado dela.
Enquanto os anos passam, Benjamin fica mais novo. Seu cabelo cresce, suas rugas desaparecem aos poucos e seu físico se torna mais vigoroso. Em meio a isso, ele conhece figuras como um pigmeu, um capitão de barco com quem viaja o mundo e a mulher de um diplomata que sonha em cruzar o Canal da Mancha a nado (interpretada por Tilda Swinton). Com ela, o protagonista - então com aparência de uns 60 anos - dá o seu primeiro beijo.
Fincher constrói drama de primeira. Para isso, vai do cômico ao trágico. Ou, frequentemente, mistura os dois – o homem senil, por exemplo, que insiste em dizer que foi atingido sete vezes por um raio, é sempre cortado por divertidas imagens de como isso teria ocorrido. No extremo da tragédia vamos encontrar o Benjamin Button no fim da vida, com cara de adolescente, sendo diagnosticado com a demência típica de muitos idosos – uma condição que conhecemos no mundo real, transformada em algo chocante pela idade aparente da personagem
Mas o amor da vida de Benjamin é Daisy (Cate Blanchett), uma menina que ele conhece na infância. Enquanto ele fica mais novo, ela envelhece. A diferença física entre os dois é sempre bastante visível, até que, em um determinado ponto, os dois finalmente atingem idades parecidas. Só que não terão o prazer de passar a velhice juntos. Pelo menos não da maneira convencional. A paixão é interrompida pela inversão do ciclo natural da vida e a única certeza que perece ficar dessa experiência – além da resignada Daisy dizer que todos usam fraldas nos extremos de suas vidas – é a de que não há escapatória: seja por onde começar, uma vida vai passar, inexoravelmente, por alegrias, descobertas, conquistas e perdas.
Benjamin amadurece com uma tranqüilidade que poucos conhecem em relação à perda. Ele vem de um mundo de pessoas em paz com sua própria mortalidade, portanto não há muita coisa que o assuste.Cada pessoa que conhece é transitória; cada minuto com elas pode ser seu último momento. Mesmo assim, nenhuma dessas pessoas é histérica; todos se satisfazem com o que têm. Portanto, ainda muito jovem, os aspectos mais profundos da morte lhe eram familiares. Ela chega para todos, e nós passamos as nossas vidas focados em outras coisas para evitar pensar sobre essa inevitabilidade. Seu andar para trás só o torna mais consciente de que não podemos nos agarrar às coisa.



As perdas de Button e de Daisy me fizeram pensar muito na perda mais importante de minha vida. Minha mãe, que faleceu no dia 30 de novembro. Em um determinado momento do filme, Button diz que Deus leva as pessoas que a gente ama para a gente ver se consegue ser feliz sem elas. Com a perda de minha mãe, uma pessoa que determinou minha formação de várias formas, que era meu Norte, perdi também a bússola da vida. O vazio que ficou me faz pensar que hoje não preciso mais tentar agradar alguém ou reagir contra algo. Estou verdadeiramente só sobre varios aspectos.
Mas também entendi que como diz a personagem Tizzy ( Mahershalhashbaz Ali), a gente sabe que pode ter as coisas por certo tempo e que depois é preciso deixá-las ir. Podemos tirar o melhor proveito delas enquanto estão por aqui, porém nunca serão nossas. O filme é assim, fala de mortes, perdas e lutos e, ao fazê-lo, acaba construindo, na verdade, uma poderosa representação dos fluxos da vida.
O filme não tem deslizes na técnica. Da maquiagem à direção de arte, notam-se calculadamente os caprichos da produção. Fotografia, maquiagem e cenografia impecáveis fazem com que O Curioso Caso de Benjamin Button" lembre em muitos momentos os filmes do francês Jean-Pierre Jeunet,Eterno Amor e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain). A narrativa também se assemelha a Forrest Gump (1994), o que é compreensível considerando que o roteirista de ambos os filmes - Eric Roth - é o mesmo.



O conto original
Publicado em 1921 e mais tarde reunido à antologia Contos da Era do Jazz, a história original de Benjamin Button imaginada por F. Scott Fitzgerald tem o tom de uma fantasia cômica e por fim melancólica, mas bem menos romântica do que o filme.
Fitzgerald concentra-se em imaginar com humor as consequências de um homem que vivesse a vida ao contrário. Benjamin nasce em Baltimore, em 1860, com uma longa barba e o aspecto de um homem pequeno e encarquilhado de 70 anos. O pai, um empresário respeitável, o obriga a pelo menos raspar a barba para parecer uma criança – estranha, mas ainda assim uma criança. Benjamin já nasce falando, prefere conversar com o avô e filar cigarros do pai a brincar.
A história romântica que ocupa o centro do filme tem papel menor no conto. Benjamin casa com Hildegard, ama-a, tem filhos e progressivamente se desinteressa dela à medida que vai ficando mais jovem e ela, mais velha.

Um comentário:

  1. O roteiro do filme parece mais interessante que o livro, um filme fantástico, mas fiquei decepcionada com atuação de Cate Blanchett, acho que ela deixou a desejar.

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