sábado, 27 de agosto de 2011

Adele canta o amor incondicional




“21”, de Adele, é marcado por canções inspiradas em desilusões amorosas que retratam todas as fases do término de um relacionamento

Impossível falar da cantora britânica Adele (Adele Laurie Blue Adkins) sem citar Amy Winehouse. Elas têm muito em comum, a começar pelo fato de terem feito sucesso antes dos 21 anos, passando pelo forte talento vocal e a influência da música negra americana de décadas atrás. Ainda a se destacar o fato das músicas de ambas serem basicamente inspiradas nas desventuras amorosas das artistas, que expressam, em tom confessional, diferentes graus de dor de cotovelo, revelando personalidades fortes e agitadas.

Dúvida? Que tal ouvir “21”, multiplatinado álbum que Adele lançou no início do ano. Se em “19”, lançado quando a cantora tinha 19, a poderosa voz de Adele era a grande estrela em meio a um instrumental minimalista, em “21” a maior arma da cantora divide harmoniosamente o espaço com a produção de Rick Rubin que já assinou produções de trabalhos de artistas de todos os gêneros, de Johnny Cash a Metallica, passando por Beastie Boys e Rage Against The Machine. Rubin dividiu a produção com Paul Epworth, que já fez remixes para artistas como Florence, The Machine e U2. A evolução musical foi importante para salientar o novo caminho trilhado pela cantora.

O que se vê em “21” é que a produção de Paul Epworth e do mago Rick Rubin fez bem às novas músicas de Adele, que parecem mais bem resolvidas do que em seu álbum de estreia, com a artista assumindo com mais segurança o seu lado pop. Parece estranho, mas Rick Rubin fez com Adele o mesmo que fez pelo Linkin Park. A banda, que estava perdida e procurando por uma nova sonoridade, encontrou aquilo que sempre quis ser sob a produção de Rick Rubin, e foi isso que aconteceu com Adele. A cantora encontrou seu rumo e finalmente consegue colocar para fora todo o seu talento.

“21” — o título, como o do álbum anterior, revela a idade — também evidencia que a cantora gosta, tanto quanto Amy, da soul music americana dos anos 1960. Mas é um disco que soa bem menos retrô do que o “Back to Black” que consagrou Amy. A música de Adele parece carregar muito menos o peso dos próprios dramas do que a de Amy, embora Adele cante suas desilusões amorosas e confesse que algumas canções foram escritas depois de algumas doses de álcool, na esteira do fim de um relacionamento com um homem mais velho.

Resultado: “21” é um disco quase conceitual sobre as agruras de crescer e sobre os dolorosos pés na bunda que fazem parte do processo. As canções são entremeadas por refrões cantaroláveis que expõem sentimentos de negação do término da relação (“Rumour has it”), inconformismo (“He won’t go”), supressão do superego (na bela “Don’t you remember” ), onde ela pede ao namorado que se lembre dela mais uma vez e em “I’ll be waiting”, onde, sem orgulho nenhum, pede ao namorado que a deixe ficar mais uma noite. Até mesmo “Lovesong”, cover do The Cure executada em um clima de banquinho e violão, se encaixa perfeitamente no tema do álbum. Adele canta com intensidade tanto as canções mais balançadas (“Rumour Has It” e “I’ll Be Waiting”) quanto as mais dolentes (“Turning Tables” e “Don’t You Remember”).

Além do soul marcante de seu primeiro trabalho, em “21” Adele é claramente influenciada pelo country dos Estados Unidos, país onde foi recebida de braços abertos. Exemplo claro dessa mistura de influências é “Rolling in the deep”, o primeiro — e ótimo — single do disco. Segundo a crítica da revista “Billboard”, “Rolling in the deep” dificilmente será superada como a melhor música de 2011. A canção conta com dezenas de releituras na internet, gravadas por ilustres desconhecidos e até por gente já consagrada no métiers, como o americano John Legend.

“19” era um álbum encantador, é verdade, mas só tem duas músicas realmente memoráveis, “Chasing Pavements” e “Hometown Glory”. Já sobre “21” pode se dizer mais do que isso. Impossível ouvir só uma vez “Rolling In The Deep” (que a artista define como uma música “dark bluesy gospel disco tune”), “Turning Tables”, “Don’t You Remember” e “Lovesong”, o cover do The Cure. “21” é um álbum sobre amor incondicional. As pessoas podem ficar para trás, assim como as histórias, mas as sensações e lembranças permanecem — nem que seja apenas no eco da voz de uma grande artista.


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