terça-feira, 11 de agosto de 2009

Duelo de interpretações não deixa dúvida da grandeza do elenco




"A dúvida, ao contrário do que muitos pensam, pode ser um elo tão poderoso quanto a certeza"
(Padre Flynn )


Nem as indicações a cinco Oscars deste ano, os atores famosos no elenco - Philip Seymour Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams e Viola Davis -, todos no páreo pelas estatuetas de ator e atriz, principais e coadjuvantes, fizeram com que os exibidores goianos se arriscassem a apresenta Dúvida (Doubt) no circuito comercial. O filme, que agora pode ser conferido em DVD lançado pela Miramax/Buena Vista Home é indispensável para os apreciadores do bom cinema.

A proução é uma daquelas de poucas referências que revelam gratas surpresas a cada minuto de sua duração e se não chegou ao circuito foi porque está longe de ser um daqueles badalados blockbusters de Hollywood.

As indicações ao prêmio da Academia, aliás, refletem o melhor dessa produção. A começar pelo esforço concentrado do elenco, que conta com Philip Seymour Hoffman, Meryl Streep, Amy Adams e Viola Davis.Outro aspecto que chama a atenção é o texto do roteirista e diretor John Patrick Shanley.Trata-se da adaptação da obra homônima de Shanley – Prêmio Pulitzer de Teatro de 2005 – que permaneceu durante um ano (525 apresentações) em cartaz na Broadway, tendo recebido quatro prêmios Tony.Shanley, 58 anos (18 sem dirigir um filme), já havia vencido o Pulitzer, em 2005, pela peça adaptada aos cinemas por ele mesmo, que usa elementos de sua infância para recriar a história do filme. E à parte algumas cenas em que há excesso da linguagem do teatro, Shanley realmente surpreende.

O ano é 1964 e o cenário é a escola St. Nicholas, no Bronx. O vibrante e carismático padre Flynn (Philip Seymour Hoffman), vem tentando acabar com os rígidos costumes da escola, que há muito são guardados e seguidos ferozmente pela irmã Aloysius Beauvier (Meryl Streep), a diretora com mãos de aço que acredita no poder do medo e da disciplina. Os ventos das mudanças políticas sopram pela comunidade e, de fato, a escola acaba de aceitar seu primeiro aluno negro, Donald Miller. Mas quando a irmã James (Amy Adams), uma freira inocente e esperançosa conta à irmã Aloysius sobre sua suspeita, induzida pela culpa, de que o padre Flynn está dando atenção exagerada a Donald, a irmã Aloysius se vê motivada a empreender uma cruzada para descobrir a verdade e banir o padre da escola. Agora, sem nenhuma prova ou evidência, exceto sua certeza moral, a irmã Aloysius trava uma batalha de determinação com o padre Flynn, uma batalha que ameaça dividir a Igreja e a escola com consequências devastadoras.
Sentindo-se pressionado, mas, sem ter aparentemente como se defender, o padre aproveita o sermão da missa do domingo seguinte para falar aos fiéis sobre o poder disseminador e maléfico do boato. É essa uma das seqüências mais bonitas do filme, da qual se serve Shanley para arejar sua narrativa com tomadas externas, ilustrativas da metáfora do travesseiro soltando penas de cima de um edifício, captadas pela fotografia, de belo efeito visual e funcionalidade dramática, de Roger Deakins, indicado ao Oscar por outro trabalho estupendo realizado em Foi Apenas Um Sonho, de Sam Mendes.

O melhor do filme é o duelo das interpretações propiciadas pelo elenco afiadíssimo, que sabe tirar proveito máximo não só da construção dramática do texto e da fina sutileza e precisão de seus diálogos. Meryl Streep justifica com sua irmã Aloysius Beauvier, as suas 15 indicações ao Osrcar em 30 anos de carreira. Com o corpo escondido pelo hábito religioso, Streep explora bem o jogo facial para dominar a cena do começo ao fim, quando demonstra como é espinhoso o exercício da autoridade para uma pessoa que acredita ser dona de todas as verdades. Philip S. Hoffman empresta à interpretação do padre Flynn postura de dignidade nos debates que trava com a irmã Aloysius. Mas o melhor mesmo está nas cenas em que profere, no altar, os sermões das missas dominicais.
E a grata surpresa do filme é Viola Davis, que interpreta a mãe do garoto supostamente molestado por padre Flynn. Ela dá extraordinária lição de interiorização de personagem na cena da discussão que mantém com a irmã Aloysius no pátio do colégio, coalhado de folhas secas que se desprendem das árvores durante o outono.

E há ainda a grande questão do filme: padre Flynn é culpado ou não? Não importa. O o que vale é o fato do filme colocar em questões de julgamento, religião, comportamento, enfim, uma infinidade de coisas que pertmite que o espectador fique horas a fio imaginando o que realmente teria acontecido, sem chegar a uma conclusão plausível. E como disse o próprio padre Flynn: "A dúvida, ao contrário do que muitos pensam, pode ser um elo tão poderoso quanto a certeza".






Ficha Técnica
Título Original: Doubt
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 104 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2008
Site Oficial: www.doubt-themovie.com
Estúdio: Scott Rudin Productions / Goodspeed Productions
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures / Miramax Films
Direção: John Patrick Shanley
Roteiro: John Patrick Shanley, baseado em peça teatral de John Patrick Shanley
Produção: Mark Roybal e Scott Rudin
Música: Howard Shore
Fotografia: Roger Deakins
Desenho de Produção: David Gropman
Direção de Arte: Peter Rogness
Figurino: Ann Roth
Edição: Dane Collier e Dylan Tichenor


Elenco
Meryl Streep (Irmã Aloysius Beauvier)
Philip Seymour Hoffman (Padre Brendan Flynn)
Amy Adams (Irmã James)
Viola Davis (Sra. Miller)
Alice Drummond (Irmã Veronica)
Audrie J. Neenan (Irmã Raymond)
Susan Blommaert (Sra. Carson)
Carrie Preston (Christine Hurley)
John Costelloe (Warren Hurley)
Lloyd Clay Brown (Jimmy Hurley)
Joseph Foster (Donald Miller)
Bridget Megan Clark (Noreen Horan)

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