
Não esperava muito da versão do cineasta
australiano Baz Luhrman para “O Grande Gatsby”, o romance de F. Scott
Fitzgerald que ficou famoso por mostrar como funcionava a vida da “geração
perdida”, que dominou em parte a ficção norte-americana entre os anos 20 e 30.
Luhrman já tinha exagerado nos maneirismos visuais e narrativos de ”Moulin
Rouge - O Amor em Vermelho”. E também porque ele conseguira rasgar a aura
sagrada de uma das mais célebres tragédias de William Shakespeare, com sua
versão modernosa da história de amor mais conhecida do mundo, em Romeo + Juliet
(1996).
Mesmo sem grandes expectativas,
assistir a segunda adaptação para o cinema do romance clássico do escritor
norte-americano F. Scott Fitzgerald (1896-1940), lançado originalmente em 1925,
não é uma experiência das mais fáceis. Principalmente pelo fato de ter
assistido a primeira, dirigida por Jack Clayton com o eternamente charmoso
Robert Redford no papel-título.

Diferentemente do livro e da
conhecida adaptação de 1974 estrelada por Robert Redford e Mia Farrow, a
história desta vez é contada em flashback pelo narrador, Nick Carraway (Tobey
Maguire). Aspirante a escritor e corretor da bolsa de Nova York, Carraway vai
passar o verão de 1922 na opulenta região litorânea de Long Island, onde sua
prima, Daisy (Carey Mulligan), vive com o marido milionário, Tom (Joel
Edgerton). A casa modesta alugada por Carraway é próxima ao palacete de Jay
Gatsby (Leonardo DiCaprio) figura excêntrica que fez fortuna de forma nebulosa.
Enquanto a história é contada através do olhar
deslumbrado de Nick, e o protagonista não entra em cena, o filme se sustenta,
porque, de certa forma, compartilhamos a sua perplexidade, mas na medida em que
o foco narrativo se desloca de Nick para se concentrar no amor obsessivo de
Gatsby por Daisy, que o desprezou no passado por ser um pobretão, o filme
descamba.

DiCaprio, que estrelou a versão do australiano para o drama de Skakespeare, evolui sensivelmente como ator e, como tal empresta a dignidade que falta ao projeto como um todo. O ponto alto do filme é a introdução de Gatsby em meio a grande festa em sua mansão ao som de "Rhapsody in Blue", de George Gershwin, a melhor tradução dos loucos anos da década de 1920, a era do jazz. Carey Mulligan é bem mais interessante que Mia Farrow, mas Joel Edgerton fica devendo muito a interpretação de Bruce Dern. Tobey Maguire não decepciona.
Quem decepciona mesmo é o
exagerado cineasta que em “O Grande Gatbsy” exagera até mesmo no figurino e na
mistura de gêneros musicais na trilha sonora. Só mesmo Luhrman para misturar
Beyoncé, will.i.am, Fergie, Lana Del Rey, Florence Welch, Emeli Sandé, The XX
com o jazz dos anos 1920 e os irmãos George e Ira Gershwin. O filme até se dá ao direito de fazer
releituras de canções contemporâneas, como “Back to Black”, que ficou famosa na
voz de Amy Winehouse. E de melindrosas dançaram na batida de Jay Z e Kanye West.
No exagero sonoro, destaque para a música “Young and Beautiful”, da Lana Del
Rey, que foi gravada especialmente para o filme e já entrou no topo do ranking
da Billboard.
