quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Emmylou Harris rumo ao décimo-terceiro Grammy




"Hard Bargain" resume o pensamento de Emmylou Harris não só sobre si mesma, mas também sobre gerações, mentores, amigos mortos, filhos e netos, mortalidade e fé
Emmylou quem? Você pode não conhecer Emmylou Harris, mas certamente já ouviu a voz desta extraordinária cantora. Afinal são nada menos do que 40 anos de carreira, 12 Grammy nas mais diversas categorias e parcerias musicais lendárias que vão de Gram Parsons, The Band, Linda Ronstadt, Roy Orbison, Dolly Parton, Mark Knopfler, Guy Clark, Donna Summer, Willie Nelson, Bob Dylan, Rodney Crowell, Vince Gil, Sheryl Crown, Lucinda Willians, Nancy Griffith e Neil Young. Sem contar o impressionante conjunto de trabalhos solos de fazer inveja aos colegas do cenário musical.
O décimo-terceiro Grammy pode ser levado para casa graças a Hard Bargain, (Nonesuch Records) indicado no último dia de novembro na categoria Best American Album (Melhor Disco Americano). Os concorrentes de Ms. Harris são fortes: “ Blessed”, de Lucinda Williams (Lost Highway Records); ”Pull Up Some Dust And Sit Down”, de Ry Cooder (Perro Verde Records LLC/Nonesuch); ”Ramble At The Ryman”, de Levon Helm (Vanguard/Dirt Farmer Music) e “Emotional Jukebox”, de Linda Chorney (Dance More Less War Records).
Emmylou Harris sempre pautou sua carreira pela simplicidade, nunca se rendeu às tentações do estrelato e ao longo dessa trajetória não faltaram elogios à sua gentileza de emprestar a voz a pequenos e grandes artistas aparecendo simplesmente como backing vocal. É esta mesma simplicidade que caracteriza “Hard Bargain”, o vigésimo-primeiro disco solo (sem contar as coletâneas de grandes sucessos, edições especiais...). Com o produtor Jay Joyce na guitarra e piano e Reaves Gilles na percussão, “Hard Bargain” tem como foco a voz de Harris, ainda transcendente aos 64 anos de idade. O disco é um dos três álbuns para os quais Harris escreveu a maioria das músicas: "Girl Red Dirt", em 2000, "Stumble into Grace,” em 2003 e agora “Hard Bargain” (ela também escreveu a maior parte do seu álbum de 1985, "The Ballad of Sally Rose", junto com seu marido na época, o compositor Paul Kennerley).
Os anos não diminuíram a pureza de sua voz que canta 11 canções originais e íntimas. Em “The Road”, por exemplo, ela lembra a parceria musical e sentimental com Gram Parsons. Olhando para trás ao longo dos anos ela canta "Ainda me lembro de todas as músicas que você cantou/ há muito tempo, quando éramos jovens / e nos divertíamos a noite toda". O relacionamento com Parsons, vale lembrar, já foi cantado por Emmylou Harris na clássica balada “Boulder to Birmingham".
Outra perda, esta mais recente, é descrita em "Darling Kate" - uma homenagem a uma velha amiga e colaboradora, Kate McGarrigle, cantora e compositora canadense de folk falecida em janeiro do ano passado. McGarrigle, mãe do cantor Rufus Wainwright era amiga de Harris desde os anos 70 e autora de “Lovis Is”, que Emmylou gravou em 1989. “Darling Kate” é um elogio lindo e comovente que evita ser piegas e fortalece a verdade emocional das outras canções do álbum que falam dos muitos desafios e armadilhas da vida.
Outra homenagem é "My Name Is Emmett Till", que conta a história de um rapaz negro de 14 anos brutalmente assassinado no Mississipi em 1955. O relato de Harris lamenta a vida que Till nunca pôde viver e imagina a geração que se lhe seguiria.
Uma balada-lamento, "Goodnight Old World", deposita esperanças num bebê recém-nascido para que ele "suavize a mágoa" deste "mundo triste"; Harris tem agora uma neta pequenina. A canção foi escrita com Will Jennings, conhecido por ter colaborado em canções de Steve Winwood.
O álbum também inclui "The Ship on His Arm", um romance valsante dos tempos da guerra. A história é inspirada nas vidas dos pais de Harris, Walter e Eugenia, que se casaram durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era fuzileiro.
Duas das canções mais reveladoras de "Hard Bargain" versam sobre mulheres solitárias: "Nobody", que conta a vida de uma pessoa que nunca encontra "o seu único e grande amor", e "Lonely Girl": "If love can''t find me again/I''ll put it all behind me then/ "I''ll just go and learn to sing another sad love song". ("Se o amor não pode me encontrar de novo / Eu vou colocar tudo atrás de mim, então / Eu vou aprender a cantar outra canção de amor triste."
Apenas duas das 13 músicas do disco são regravações. A faixa título é um sucesso da carreira do canadense Rom Sexsmith e cantanda de forma deliciosamente descontraída por Ms Harris, acompanhada pelo banjo e guitarra. “Cross Yourself”, de Jay Joyce, é outra grande interpretação da artista.
"Hard Bargain" é o primeiro lançamento de Emmylou Harris nos últimos três anos e valeu a pena esperar. Sua voz continua suave e extremamente emotiva, daquelas que torna agradável qualquer canção. As músicas são bem escritas e ouvindo o disco é difícil acreditar que há apenas três pessoas, incluindo Emmylou, fazendo toda aquela música. São longas notas de violino, acordes de pianos equilibrados com a voz melodiosa e um ou outro som de banjo e bandolim. A percussão é sutilmente inteligente. A força e a sinceridade vocal de Emmylou Harris fazem de “Hard Bargain” mais um bom motivo para amar e admirar essa grande artista.
A propósito. O CD pode ser encontrado em versão simples e edição especial, com o CD de áudio e DVD com apresentações ao vivo de seis canções e uma entrevista exclusiva com a artista.

Um comentário:

  1. Tacilda, incrível ver que essa excelente matéria sua sobre Emmylou Harris está há um ano no blog e não recebeu comentários. Emmylou certamente não merece isto. Você aborda com muita competência, os inúmeros aspectos positivos, a tenacidade, o amor à música, o amor à vida que Emmylou sempre demonstrou. Ela surgiu nos fins dos anos 60, eu me lembro que a ouvi pela primeira vez por volta de 1969, dpois ela andou sumida. Reapareceu com Gram Parsons, morto prematuramente pouco tempo depois. A impressão é que Emmylou desapareceria, mas não. Como um vulcão em erupção, ela surgiu nos palcos, maravilhando todos nós com suas interpretações únicas, com sua voz de anjo, com sua maravilhosa imagem. Emmylou realmente é única. Hoje com 65 anos merece todas as nossas homenagens, todo o nosso respeito e toda a nossa gratidão, por ter nos proporcionado tanta alegria com sua música, suas interpretações.

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